Analisando o “mal do século”, psicóloga e psicanalista dá dicas para refletir e despertar para a vida!

Leitura obrigatória

A depressão é uma doença incapacitante que atinge por volta de 350 milhões de pessoas, no mundo. Quem nos fala mais sobre o tema é a psicóloga e psicanalista Iole Maria Bonetti. Confira:

OM – A depressão é uma doença da atualidade?
A depressão é uma doença psiquiátrica, crônica e recorrente, que produz uma alteração do humor, caracterizada por uma tristeza profunda, sem fim, associada a sentimentos de dor, amargura, desencanto, desesperança, baixa autoestima e culpa, assim como a distúrbios do sono e do apetite.
Os quadros variam de intensidade e duração e podem ser classificados em três diferentes graus: leves, moderados e graves.
Existem fatores genéticos envolvidos que podem ser provocados por uma disfunção bioquímica do cérebro. Entretanto, nem todas as pessoas com predisposição genética reagem do mesmo modo, diante de fatores que funcionam como gatilho para as crises: acontecimentos traumáticos na infância, estresse físico e psicológico, algumas doenças sistêmicas (ex: hipotireoidismo), consumo de drogas lícitas (ex: álcool) e ilícitas (ex: cocaína), certos tipos de medicamentos (ex: as anfetaminas).

OM – Quem é mais suscetível à depressão?
As mulheres parecem ser mais vulneráveis aos estados depressivos, em virtude da oscilação hormonal a que estão expostas, principalmente no período fértil. No Brasil, cerca de uma, em cada dez pessoas, sofre com o problema.

OM – Quais são os sintomas?
Além do estado deprimido (sentir-se deprimido a maior parte do tempo, quase todos os dias) e da anedonia (interesse e prazer diminuídos para realizar a maioria das atividades), são sintomas da depressão:
– Alteração de peso (perda ou ganho de peso não intencional);
– Distúrbio de sono (insônia ou sonolência excessiva, praticamente diária);
– Problemas psicomotores (agitação ou apatia psicomotora, quase todos os dias);
– Fadiga ou perda de energia constante;
– Culpa excessiva (sentimento permanente de culpa e inutilidade);
– Dificuldade de concentração (habilidade diminuída para pensar ou concentrar-se);
– Ideias suicidas (pensamentos recorrentes de suicídio ou morte);
– Baixa autoestima,
– Alteração da libido.

OM – Qual o tratamento para depressão?
Embora seja uma doença comum, a moléstia carrega estigmas que dificultam seu diagnóstico precoce e a adesão ao tratamento adequado. O primeiro deles está no fato de a depressão ser um transtorno mental, onde o preconceito com as doenças mentais faz com que muitos pacientes, principalmente os homens, demorem a aceitar que têm o problema e a procurar um médico, atrasando o tratamento.
Depressão é uma doença que exige acompanhamento médico sistemático. Quadros leves costumam responder bem ao tratamento psicoterápico.
Em casos mais graves e com reflexo negativo sobre a vida afetiva, familiar e profissional e em sociedade, a indicação é o uso de antidepressivos, com o objetivo de tirar a pessoa da crise. Nestes casos, a associação de psicoterapia, antidepressivos, exercícios físicos, boa alimentação e desenvolvimento da espiritualidade (crenças) têm mostrado maior eficácia no combate a doença.

OM – Qual a frequência de atendimento a casos de depressão?
A depressão pode ocorrer em qualquer fase da vida: na infância, adolescência, maturidade e velhice. Nas crianças, muitas vezes é erroneamente atribuída a características da personalidade e, nos idosos, ao desgaste próprio dos anos vividos. Não fiz um estudo da frequência da depressão entre meus clientes, mas acredito que cerca de 50% dos casos atendidos já tenham tido episódios de depressão em suas vidas.

OM – Como diferenciar a depressão de um momento de tristeza?
Existe a tristeza patológica e a transitória provocada por acontecimentos difíceis e desagradáveis, como a morte de um ente querido, a perda de emprego, os desencontros amorosos, os desentendimentos familiares, as dificuldades econômicas etc.
Diante das adversidades, as pessoas sem a doença sofrem, ficam tristes, mas encontram uma forma de superá-las.
Nos quadros de depressão, a tristeza não dá tréguas, mesmo que não haja uma causa aparente. O humor permanece deprimido praticamente o tempo todo, por dias e dias seguidos, e desaparece o interesse pelas atividades que, antes, davam satisfação e prazer.

OM – Também tem se falado muito em transtorno bipolar. Como é esta doença?
O transtorno bipolar era conhecido pelo nome de psicose maníaco-depressiva, uma doença psiquiátrica caracterizada por alternância de períodos de depressão e de hiperexcitabilidade ou mania.
Nesta fase, a pessoa apresenta modificações na forma de pensar, agir e sentir e vive num ritmo acelerado, assumindo comportamentos extravagantes, como sair comprando compulsivamente tudo o que vê pela frente, ou envolvendo-se em experiências perigosas, sem levar em conta o mal que podem causar.
Do nada, a pessoa acorda depressiva, com vários sintomas da doença, sem uma causa provável. Ela passa de uma euforia, uma grande excitação – principalmente das ideias – para uma posição de não fazer nada, não pensar nada; nada serve, nada está bom.

OM – Como a família de um depressivo ou bipolar deve encarar a situação?
A família precisa manter-se informada sobre a doença, suas características, sintomas e riscos.  É importante que ela ofereça um ponto de referência para certos padrões, como a importância da alimentação equilibrada, da higiene pessoal e da necessidade e importância de interagir com outras pessoas. Afinal, trancafiar-se num quarto às escuras, sem fazer nada nem falar com ninguém, está longe de ser um bom caminho para superar a crise depressiva.
É muito importante que a família entenda que não é “frescura”, o que a pessoa está se queixando; é uma doença, um desequilíbrio bioquímico dos neurotransmissores e que compromete o físico, o humor e, em consequência, o pensamento.
A depressão altera a maneira como vemos o mundo, como sentimos a realidade, como entendemos as coisas, as manifestações de nossas emoções, nossa disposição e o prazer com a vida.
É, portanto, uma doença afetiva e não é simplesmente estar na “fossa” ou com “baixo astral” passageiro. Também não é sinal de fraqueza, de falta de pensamentos positivos ou uma condição que possa ser superada apenas pela força de vontade ou com esforço próprio.

OM – Você concorda com o termo “mal do século”?
“A depressão é um problema de saúde pública e será o mal do século 21, juntamente com a síndrome do pânico”, afirma Sílvia Ivancko, psicoterapeuta e psicóloga do Instituto de Cancerologia de São Paulo. Os números da depressão são mesmo alarmantes: embora não se tenha um cálculo exato, estima-se que cerca de 30% da população mundial sofra da doença, sem saber.
Eu acredito que seja mesmo um problema dos nossos tempos, mas muitas pessoas utilizam esse termo corriqueiramente, para se autodenominarem “depressivas” em qualquer situação de suas vidas. Mas não se encontram doentes; podem estar tristes, de baixo astral, descontentes com a vida, passando por problemas, mas não doentes.
Facundo Cabral, um cantor e compositor argentino, em um de seus poemas, faz uma extraordinária reflexão sobre estar ou não “deprimido”:
“Não estás deprimido, estás distraído…
…Distraído em relação à vida que te preenche,
Distraído em relação à vida que te rodeia:
Golfinhos, bosques, mares, montanhas, rios.
Faz apenas o que amas e serás feliz.
Aquele que faz o que ama, está benditamente
condenado ao sucesso,
que chegará quando for a hora,
porque o que deve ser será,
e chegará de forma natural.”

OM – Algo mais?
Muito interessante é notarmos e refletirmos sobre nossas próprias vidas, o que estamos fazendo com ela, qual o caminho e o sentido que a ela estamos dando.
Hoje, você está feliz do jeito que está vivendo? O que você gostaria de ter ou ser? Onde gostaria de estar? Como você quer a sua vida de agora em diante? Você tem metas, sonhos, desejos? E, principalmente, sem medo?
Não importa o quê! Escolha o que quiser, qualquer coisa, questões pessoais, profissionais, materiais, afetivas, familiares. Tudo vale, desde que as metas estejam alinhadas com o seu coração, o seu propósito maior e a sua identidade.
Isto tudo é VIDA, que posso dizer ser o contraponto e a própria prevenção contra a depressão.
Perceba se você está distraído da vida; olhe em volta, abra seus olhos, abra seu coração e DESPERTE para a vida!

Serviço: Iole Maria Bonetti atende à Travessa Rufino Gonçalves de Andrade, 17, fone: 3895-3821 / 3895-1231

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