Cineasta Socorrense lança álbum com músicas dos antigos saraus do Mercadão

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“Não preciso de muito. O que preciso mesmo é continuar a me expressar: Eu mesmo não sei como fiz as coisas que fiz. Eu só sabia que queria me expressar, que não queria ficar parado. Nunca aceitei as coisas como são. Sempre fui desejoso pela transformação. Qualquer um que pare e olhe para as condições que eu tinha na época, diria para eu não ir pra França, para eu não fazer cinema, para que eu seguisse o caminho mais garantido.”, conta o pouco conhecido, porém premiado cineasta socorrense que, na tarde do último sábado do mês de julho, lançou o álbum da antiga Lazo Black para relembrar mágicos momentos de sua trajetória e incentivar jovens a acreditar no sonho e enxergar as possibilidades profissionais que se revelam nas aventuras culturais da adolescência.

Seu primeiro longa, “Caubóis do Apocalipse” teve a primeira estreita no Cine Cavalieri, circulou por festivais e salas de cinema e hoje, após ser licenciado pelo Canal Brasil, pode ser assistido no Telecine Play. “Selvagem”, o segundo, rodado em Socorro, seria lançado nas salas Cinemark no mês de junho se não estivéssemos em “quarentena”. Ele defende a ideia de que qualquer um pode se expressar por meio da 7ª Arte e que o jovem socorrense pode fazer das artes midiáticas uma profissão. Quem é esse artista?

Diego da Costa. Formação: Midiologia na UNICAMP com uma passagem por Sorbornne Nouvelle, Paris 3. Profissão: Cineasta. Produção: curtas premiados e dois longas: Caubóis do Apocalipse (2017) e Selvagem (2019). Onde tudo começou? Na cidade de Socorro, estudando na escola Staccato dos professores Cão e Bonetti. Sonho: ajudar jovens socorrenses a produzirem Cinema, sem precisar se mudar da cidade. Ex-aluno do Coronel Olímpio e do Craveiro, Diogo esteve em contato com nossa redação para divulgar, não o seu trabalho; mas a ideia do ICine conforme matéria publicada na edição de 07/08. “Criar um Polo Audivisual em Socorro e trazer o ICine para o Circuito das Águas permitiria ao jovem socorrense poder trabalhar com cinema sem precisar se mudar para os grandes centros urbanos”, defende.

Lazo Black fez história na cidade no início do século XX, quando seus integrantes ocuparam o antigo Mercadão e, com jovens ligados a outras bandas, organizaram 5 Saraus. Vários segmentos da cidade se mobilizaram e o comércio contribuiu com brindes e prêmios variados, inclusive almoços para quem recitasse poemas ou demonstrasse sua criatividade. O “mercadão” foi um espaço onde a arte estava ligada à liberdade de expressão. O álbum da Banda, lançado online, com 10 faixas compostas por eles, traz o som da gravação original, deixando “cravada” a marca dessa geração na história da música local e pode ser acessada no perfil do Facebook “O Diego da Costa”.

“Está longe de ser algo profissional. Éramos três moleques ocupando um espaço para gravar, já que não tínhamos recursos. Éramos ousados e tínhamos vontade de seguir paralelamente com a carreira musical. Apesar da qualidade técnica da gravação, decidimos compartilhar as músicas, sobretudo com quem viveu aquele momento, mas também com os jovens de hoje. Se nós conseguimos fazer algo com tão pouco, hoje eles podem fazer muito mais”, conta.

Em nossa conversa, Diego explicou que o envolvimento da comunidade com os Saraus foi bastante importante, pois na época todos os jovens envolvidos tinham o sonho de viver da música. A partir dali diversos deles foram para universidades públicas e descobriram possibilidades de trabalho antes impensadas. “Ingressamos na USP, eu em Letras e Hiro em Filosofia, mas percebemos que não era o que queríamos e decidimos andar por toda Cidade Universitária para encontrar o curso ideal.”, relembra.

Atraídos pelos alunos de Audiovisual da ECA os dois descobriram o “mundo” da produção cinematográfica, acompanhando gravações no Estúdio. Deixaram a USP, voltaram para Socorro, fizeram cursinho e foram atrás do novo sonho: fazer cinema.  “Apesar de em Socorro a gente sempre ter tido muito contato com cinema por conta do Cine Cavalieri Orlandi (o que é uma raridade em outras cidades do interior), fazer filmes parecia ser algo muito distante de nossa realidade. Mas naquele momento tudo pareceu ser possível. Após o cursinho, Hiro entrou na Imagem e Som da Ufscar e eu na Unicamp em Midialogia.”, comenta sorrindo.

A Unicamp trouxe para esse socorrense sonhador oportunidades como a de estagiar em empresas como a Imago e na mais conceituada universidade francesa, a Sorbonne. Entre os desafios para sobreviver e as oportunidades de aprendizado, da viagem trouxe consigo muita experiência de vida. Em seu retorno, lidou com o descrédito – ou a falta de idealismo – de seu orientador, que soube reverter positivamente, amadurecendo para produzir seu primeiro filme o curta “O Argentino”, que acabou ganhando 3 prêmios no festival de Paulínia de 2011.

A partir desta primeira produção, ele nos relatou toda uma trajetória de perseverança, estudos, negativas de financiamento, perseverança combinadas com inocência e acasos que resultou no primeiro longa e seu licenciamento pelo Canal Brasil para o Telecine Play… o que serviu de incentivo para o 2º, “Selvagem”, para o qual ganhou seu primeiro edital de Produção. Esse último tem Rincón Sapiência e Lucélia Santos no elenco, ganhou prêmios e passou por festivais. Aguardamos a liberação das salas de cinema para poder assisti-lo.

Diego deixa para o jovem leitor um recado: É preciso perseverança. E sabedoria para aproveitar os momentos, as oportunidades e as pessoas com as quais vamos compartilhar e criar. Ele se coloca a disposição para dividir suas experiências junto às escolas da cidade e também para conversar com os jovens que curtam a 7ª arte.

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