Conhecendo um Brasil desconhecido: uma viagem inesquecível ao estado do Amapá!

Leitura obrigatória

Nesta semana, faremos um Pelo Mundo diferente, contando a epopeia vivida por jovens estudantes de Jornalismo, para  o seu Trabalho de Conclusão de Curso, viajando até o Oiapoque, extremo norte do Brasil, para gravar um parto natural, assistido por parteira.

Confira a aventura:

Em janeiro de 2014, nós, Amanda Chaves, Felipe Cotrim, Letícia Carvalho e Tabata Occhipinti, quatro estudantes da Universidade Presbiteriana Mackenzie de São Paulo, nos aventuramos em uma viagem ao Amapá, a fim de gravar nosso TCC. Escolhemos como tema as parteiras tradicionais do estado.  O resultado de tudo que foi vivido por nós, nas duas semanas, foi relatado em um livro intitulado “Diário de Bordo: uma viagem ao extremo do país” e as imagens gravadas se transformaram no documentário “Prenhas e Paridas”.

Toda a história da viagem se resume na busca por um parto realizado por uma parteira. Para isso, saímos de Macapá rumo a Santana, Ilha de Santana, onde residem comunidades ribeirinhas. Não satisfeitos, partimos para o Oiapoque, em busca de mais material para o documentário.

Depois de 12 horas de viagem em uma estrada esburacada, desembarcamos na cidade onde só tínhamos um contato. Por sorte, o contato era a coordenadora das parteiras e conhecia muitas delas em comunidades indígenas. Mas não era tão fácil como se pensava, entrar em uma aldeia indígena. Foi preciso uma autorização da FUNAI. E eles só autorizam com um documento do governo ou com a assinatura de um cacique; e foi com um deles que conseguimos! Com as autorizações concedidas, fomos visitar as aldeias da região, de barco; conhecemos o rio Amazonas e todas as belezas naturais ao seu redor. Depois de tantas entrevistas proveitosas, fomos conhecer a cultura local. Houve até o resgate de uma das integrantes do grupo, que ficou presa no mangue (risos).

Mas, o nosso grande desafio ainda não tinha sido concluído: gravar um parto. Para isso, solicitamos que uma assistente social do local passasse um rádio para todas as aldeias do entorno da região, para encontrar uma mulher que estivesse para parir naqueles dias. E ela achou! Uma índia da aldeia Kumenê, que ficava a quatro horas de barco da cidade, e que teria o bebê naquela semana.

Decididos, emprestamos um barco no estilo de uma canoa, juntamos o dinheiro para a gasolina e partimos em uma viagem de 4 horas pelo Rio Uaçá. Enfrentamos chuva forte e um sol de 40 graus. A paisagem era exuberante e a fauna e a flora em momento algum se sentiram envergonhadas, pelo contrário, vimos muitos jacarés no caminho, diversas aves que nunca sonhávamos ver. Durante todo esse deslumbre com a natureza, subitamente o motor do barco arriou. Mas, a ânsia para chegar na aldeia era tanta que colocamos a mão na água e remamos até a ponte que dava acesso a aldeia. Em momento algum paramos para pensar no perigo que corríamos: ali havia piranhas!

E foi naquela noite, na aldeia, que o ponto alto da viagem aconteceu: o tão sonhado parto natural! A emoção que sentimos foi indescritível. Como se todas as dificuldades que enfrentamos não tivessem sido problema algum, diante da honra de poder assistir ao parto.

A conclusão que tiramos de toda essa aventura que vivemos foi de que encarar o nascimento de forma tão nova e desafiadora nos fez compreender a complexidade das relações humanas. Dentro de um só país, vivenciamos diferenças que, mesmo com toda a pesquisa, nós ainda não tínhamos compreendido em sua dimensão descomunal.

Durante a viagem encontramos um pedaço do Brasil praticamente inimaginável, nos dias atuais. Brasileiros e índios que ainda não sabem falar português, ou que o fazem muito mal. Uma grande quantidade de analfabetos, por falta de escolas ou possibilidade de acesso à educação e, claro, matas intocáveis e uma construção social completamente diferente da que vivemos no mundo industrializado.

Dentro da realidade das comunidades indígenas e ribeirinhas do estado do Amapá, vê-se um misto de relações culturais milenares e técnicas que se mantêm vivas ao longo de gerações, além de um anseio por modernidade e direitos básicos, como seria o caso do saneamento básico.

Há, também, o problema da precariedade e da adoção das parteiras como forma paliativa, em lugares onde o acesso a médicos é escasso ou inexistente. Apesar do curso de capacitação melhorar muito a situação das mães e parteiras em situação de descaso, há um grande risco quando a gestante não faz o pré-natal, não por opção, mas por falta de equipamentos e aparatos básicos para exames.

Terminamos o trabalho com muitas perguntas respondidas e, sem dúvida, com uma nova percepção de mundo, mas também terminamos esse trabalho com a sensação de algo inacabado, quando vimos tanto e ao mesmo tempo só pudemos fazer tão pouco. Há um grande pedaço do Brasil e, mais do que isso, há culturas e memórias de identidade nacional que se espalham e terminam no esquecimento ou no desconhecimento.

Voltamos a São Paulo com a certeza da carreira que escolhemos e com uma voracidade por descobrir mais do mundo afora e de tudo que não é corriqueiro ou senso comum.

Entendemos que o jornalismo é mais do que uma sala de redação e vai além da boa apuração de uma matéria. É mais do que uma forma de conhecimento e de informação, o jornalismo proporciona o descobrimento de realidades, de personagens e histórias que nos abrem os olhos e a mente.

E é com o jornalismo que sonhamos “correr o mundo”, “andar pelo mundo” e contar ao mundo o que vemos e sentimos, o que é bom e o que não é tão bom assim. Nesta coluna, Pelo Mundo, queremos deixar registrada nossa primeira experiência! Que o Turismo possa chegar a essa região deslumbrante e tão esquecida! Valeu a pena!

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