Na semana passada, entre diversas outras atividades relacionadas ao incentivo à leitura, as crianças voluntárias do Clube dos Amigos da Leitura visitaram o escritório do advogado e artista plástico José Benedito Ferreira para conversar sobre leitura e conhecer sua biblioteca. A visita faz parte de um trabalho de pesquisa do grupo, que pretende entrevistar e escrever sobre socorrenses, de diversas gerações, que gostem de ler à moda antiga: livros impressos, desses que são carinhosamente guardados nas estantes.
O Município acompanhou a visita e pode presenciar o encantamento de Zé Benedito, que se considera um “ratinho de biblioteca”, ao contar sobre sua paixão pelos livros. Com os olhos brilhando, como se ainda fosse menino, ele relatou que tudo começou na infância, quando o livro era raro e mágico. Relembrou que o amor pela leitura surgiu já no Coronel Olímpio, onde começou a ler e se aventurar pelo mundo dos livros. Esse amor foi crescendo e se consolidou quando foi para o Narciso e teve o incentivo da professora Maria Cecília de Almeida S. José. Nessa escola, os livros foram sua porta de entrada para as demais artes. E o sonho de ter uma biblioteca começou a se formar.
Sonho que passou a se tornar possível na década de 70, quando começou a organizar o acervo que conta com obras variadas, já que ele é um aficcionado pela leitura em si. Trouxe para o escritório especialmente as obras relacionadas ao direito e filosofia, todas verdadeiras relíquias que merecem ser conhecidas por estudantes de direito. Entre elas está o “Tratado da prova” de 1879 e um exemplar da Philosophia do Direito de Pedro Lessa. “Ele nos mostrou livros que eu não imaginava existir”, conta maravilhada Byanca Constantini, de 11 anos.
Zé Benedito falou-nos sobre a importância do incentivo à leitura, essa dos livros, em especial para as novas gerações. “O que se pode acessar pelo celular e está nas mídias não é ‘digerido’, é apenas visto”. Opinião compartilhada por Fabiana Constantini, a mãe de Byanca, “quero que minha filha leia de verdade”, afirma. Fabiana, que trabalha no Sartori, julga importante iniciativas como a desse artista que dispôs de seu tempo para conversar com crianças e conta “amei a minha filha ter podido ver os livros raros e ter uma porta aberta para ampliar seus conhecimentos”.
“Ano passado, o José Benedito conversou conosco, lá na biblioteca e explicou cada uma das obras que estavam em sua exposição”, conta Derik de Almeida, de 12 anos, presidente do Clube. E acrescenta, “eu fiquei muito impressionado por ele ser daltônico e pintar, mas eu não podia imaginar que tudo tinha começado por conta dos livros e muito menos a partir de enciclopédias”. Curiosamente, esse foi o norte para o roteiro do vídeo Editado por Pedro Faria, 11 anos, para o Projeto Instante 58 coordenado por Marinilda Boulay. O vídeo, produzido por essas crianças, procurou mostrar a partir de uma sequência fotográfica como os livros abrem a porta para as demais artes e a importância disso no cotidiano. E a arte foi representada pelas obras do Zé Benedito, expostas o ano passado na Biblioteca Municipal.
Ali, em meio aos livros e objetos como telefones e rádios antigos, ouvindo as memórias de um advogado, a manhã passou rapidamente para essas crianças, que não se preocuparam em posar para fotos de nosso jornal ou fazer selfies. As histórias ouvidas tiveram para elas magia similar àquela dos livros para o Zé quando criança. “Gostei muito de ouvir quando ele falou do direito e dele acreditar que as escolas devem fazer passeios e aulas diferentes para que as crianças tenham curiosidade pelas coisas” foi o comentário de Caroline Ramalho. Já sua colega Thaynara quer repetir a dose: “achei muito legal, além de muitos livros, lá também tem muitos quadros e devemos voltar para ver tudo com mais atenção”.