“É fundamental que expliquem que quem está se separando são marido e esposa e jamais pai e mãe”, conta psicóloga sobre anunciar o fim do relacionamento para os filhos

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Falar de separação para os filhos não é tarefa fácil, é um momento delicado para o casal e o bem-estar de todos deve ser prioridade. Para nos auxiliar nesse momento, Gislene Ribeiro da Rosa, de 33 anos, psicóloga, respondeu algumas perguntas que possam surgir aos pais que estão neste processo.

Quando os pais devem informar a criança sobre a separação? Quais os sentimentos que essa notícia pode despertar?
São muitos os motivos para uma separação e quando envolvem filhos, tudo se torna mais difícil e doloroso, podendo gerar muita angústia, sofrimento, raiva, mágoa, e enfim, a separação pode se tornar algo muito traumático, pois é considerada um luto, tanto para pais, quanto para os filhos (é uma condição onde está se perdendo algo), e a forma como isso é vivenciado é um fator determinante para como a criança vai elaborar e aprender a lidar com essa nova condição.
Os pais só devem informar sobre a separação do casal depois de terem realmente amadurecido a ideia, é necessário que lidem com suas questões e estejam bem definidas, fazendo com que as crianças não fiquem no meio deste conflito, a criança tem que ficar protegida.

Podemos dizer que está mais fácil para a criança aceitar a separação dos pais do que antigamente? Não sei se dá para afirmar que está mais fácil a aceitação da separação nos dias atuais, pois cada um lida, vivencia e elabora este momento de uma maneira, embora seja sempre algo muito doloroso, é algo muito pessoal.  Eu percebo que o que difere essa situação de antigamente, é que nos dias de hoje existe uma maior quantidade de casais separados, e a instituição família hoje é constituída por diversos modelos, sendo assim, as crianças tem um maior contato com essa realidade, seja na própria família, na escola, enfim, no meio social em que vive, e desta forma talvez fique mais claro para a criança essa separação, pois tem contato com essa nova realidade, embora seja algo muito dolorido, já não é algo tão novo pra ela.

Como falar para a criança sobre o assunto? Há uma forma mais fácil de explicar o que está se passando? E quando devo apresentar meu novo (a) companheiro (a)?
Depois que o casal realmente estiver ciente da decisão, deve explicar à criança de uma forma sutil, sem ofensas e sem detalhes que vão se separar, preservando sempre a criança dos motivos (a criança não precisa saber dos motivos dos adultos). É muito importante que ambos deem a mesma explicação, portanto, antes de dizer algo, o casal deve conversar e decidir qual a melhor forma de explicar, sendo sempre coerentes e amigáveis.
É fundamental que expliquem que quem está se separando são marido e esposa e jamais pai e mãe, que eles continuam se gostando, mas agora como amigos, e por esse motivo, vão viver em casas separadas, mas que, apesar da separação, eles continuarão sendo pai e mãe, e sempre estarão presentes na vida dos filhos.
É necessário que os pais demonstrem estar seguros diante da situação, para que a insegurança não passe para a criança, pois toda fase gera adaptação e assimilação da nova condição e a criança apesar da tristeza deste momento, só quer ter a certeza de que não irá perder nenhum dos dois.
Bem, depois de passado um tempo dessa fase dolorosa que é uma separação, a vida começa a ficar colorida novamente, os pais podem acabar conhecendo novas pessoas e pode surgir novamente a paixão, o amor e consequentemente um novo relacionamento.
Só que esse é um novo processo que também demanda muita calma, cuidado, atenção e respeito para que seja inserido esse novo companheiro (a) no contexto familiar, pois é necessário que se tenha certeza de que realmente vão caminhar juntos para um relacionamento mais sério, antes de apresentá-los. E quando realmente passarem pela etapa de conhecimento e amadurecimento da relação e tiver a certeza de que vale a pena investir, que vale a pena as crianças conhecerem, é que é o momento em que se deve apresentar aos filhos, no entanto, com muita cautela. Faça alguns programas juntos, como, um jantar, ir ao cinema, um passeio, entre outros e, primeiramente, diga que se trata de um amigo (a).
É fundamental essa cautela, e o tempo é muito importante para todos, preserve as crianças ao máximo, pois as crianças se apegam às pessoas, e se você acaba apresentando alguém que você não tem certeza ou que não sabe se vale a pena investir nessa relação, ou até mesmo seu parceiro (a) não está disposto, gera nessa criança um novo sofrimento, pois acaba por gostar dessa pessoa demais e essa pessoa acaba saindo da vida dela novamente.
Então é necessário muito respeito para com as crianças e com o amor que elas têm pra dar, vá com calma nesse processo, para que quando esse novo (a) companheiro (a) se aproxime realmente da família, você tenha a certeza de que algo muito rico irá acontecer. E por mais que no início seja algo um pouco confuso para as crianças, depois as relações se estabilizam e esse convívio irá ser de muito amor, cuidado, dedicação e respeito.
Aos poucos as crianças se darão conta de que a família está crescendo e que são amadas por vários adultos. Nesse processo seu filho (a) vai ter mais um adulto referência na vida, que não é o pai e a mãe, mas é alguém com quem também pode contar e confiar, e alguém que também poderá ajudá-lo na condição de um adulto muito especial e importante.
Sendo um relacionamento saudável, isso só irá somar na vida dos filhos, pois o desejo dos mesmos é de que os pais também estejam felizes.
“É necessário multiplicar o amor e nunca dividir”.

Como evitar o sofrimento dos filhos? A partir de qual idade a criança sente mais a separação?
Os pais devem estar cientes que mudanças vão acontecer, então é necessário que ambos continuem a exercer seus papéis de forma amigável, tentando ao máximo manter uma boa relação, harmoniosa e tranquila, visando sempre o bem estar da criança. É uma fase que demandará muita calma e respeito, pois quando as crianças percebem que os pais se dão bem, gera certo alívio.
Também é necessário e de extrema importância acolher a criança nesse momento de perca e dar a ela liberdade para que expresse seus sentimentos sobre a separação (medo, angústia, raiva, insegurança, revolta, solidão, entre outros que possam vir a surgir). Isso irá ajudar na elaboração e assimilação desta nova situação e para a superação das dificuldades. É um caminho árduo, dolorido, mas é possível.
Não há necessariamente uma idade em que a criança sente mais a separação, visto que a separação é sempre algo dolorido, e cada pessoa lida de uma maneira, o que pode influenciar esse sofrimento vai depender da forma como se deu essa separação, de como foi passado isso para criança, de como os pais estão lidando com isso, passando isso para seus filhos e se relacionando. Por este motivo é que é importante colocar na frente o amor e o respeito pelos filhos.

Como a separação dos pais influencia na vida de uma criança/adolescente?
Os pais, independente de qualquer condição, são sempre a base de seus filhos, são referência. E os filhos sempre idealizam que os pais fiquem juntos, mesmo depois da separação, essa questão pode gerar uma grande frustração para os filhos e vai depender de toda atenção, carinho, dedicação, amor e respeito e de como esses pais vão lidar com essa separação e da relação entre si para que haja menos impacto possível na vida de seus filhos, então essa forma como vai se dar essa relação pai e mãe e pais e filhos é um fator determinante, pois as crianças sempre vão precisar desse pai e dessa mãe ao longo de sua vida. É necessário que haja muita maturidade para não deixar que nada atrapalhe essa relação, não deixar transparecer a mágoa, a raiva e ressentimentos, que normalmente acontecem no processo da separação, as crianças não têm culpa.
Se a separação não acontecer de forma amigável, tranquila e respeitosa, a criança fica com uma infância comprometida, sem brilho, sem cor, perde sua alegria, fica uma infância com marcas. A criança por ficar no meio desse conflito acaba ficando sem um norte e com uma angústia muito grande.

Qual a sua mensagem para esses pais?
Eu diria para esses pais que se tornem conscientes de suas ações, pois a infância da criança determina muito do adulto em que ela irá se tornar. Que se responsabilizem por essa relação de regar essa plantinha dessa relação única com seu filho (a).

Serviço
Gislene Ribeiro da Rosa é formada em Psicologia pela Universidade São Francisco, campus de Itatiba. Psicóloga de Abordagem Psicanalítica – CRP 06/143555 – Infantil, adolescentes e adultos. Atende no Centro Clínico Corpo Sano, à Rua Antônio Leopoldino, n°188, Centro – Socorro/SP. Telefone: (19) 99222-0095, e-mail: gislene85@hotmail.com

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