Ela se formou na primeira faculdade de oceanografia e hoje serve a Marinha do Brasil

Leitura obrigatória

A paixão pela oceanografia trouxe também muitos desafios a serem superados. Em entrevista ao Jornal O Município, Michelle Conti Pieroni, de 37 anos, conta como foi escolher uma profissão ainda pouco conhecida no Brasil: a longa trajetória de estudos, a busca por emprego até a contratação. A socorrense hoje reside no Rio de Janeiro, servindo como primeiro-tenente no Centro de Hidrografia da Marinha do Brasil.  Confira:

O que a motivou a optar pela oceanografia?
Desde criança, por um motivo que nunca entendi, pensava em ser dentista, porém quando cheguei ao Ensino Médio, fiquei sem saber que carreira seguir… Mas, definitivamente, não era odontologia, que até então sempre quis. Foi no último ano do Ensino Médio que comecei a me imaginar trabalhando em algo que me proporcionasse contato com viagens a campo e fazendo pesquisa. Acho que isso se deve ao fato que, durante os três anos do Ensino Médio, meu colégio proporcionava uma saída de campo ao ano, para que vivenciássemos na prática o que aprendíamos em sala de aula, o que me instigou. Assim, passei a procurar um curso que me proporcionasse essa vivência, foi então que minha mãe comentou que havia conhecido uma oceanógrafa e que a profissão parecia com o que eu procurava. Fui pesquisar o que exatamente um oceanógrafo fazia, foi paixão à primeira leitura.

Pronto, decidido o que eu queria e com apoio dos meus pais, fui buscar onde estudar. Entretanto, para minha surpresa havia pouquíssimas faculdades no Brasil… Na época, eram 5 em todo país, hoje contamos com 12. A mais próxima de Socorro era em Santos, a qual não cogitei fazer por condições financeiras, pois era particular, a segunda mais próxima era Rio de Janeiro (UERJ). Neste ano, fiz vestibular para química em São Paulo e também fiz o vestibular da UERJ, mas não passei.

Durante os anos seguintes, me aprofundei mais na ideia do curso e nas possíveis universidades. Na época, a Universidade Federal do Rio Grande (FURG), primeira faculdade de oceanografia do Brasil, era e ainda é a mais conceituada na área, hoje a USP está junto neste ranking. Então, tracei meu objetivo: “Vou fazer oceanografia na FURG”.

Em 2004, fui até Rio Grande, no Rio Grande do Sul, para fazer o vestibular; a seleção já começava por aí, pois não havia ENEM, e o vestibular era há quase 1.500 Km de casa. Além disso, se eu passasse, teria que ir morar lá. Mais uma vez, com apoio da minha família, eu fui e passei.

E como foram os anos no Rio Grande?
O curso foi como eu pesquisei e imaginei: multidisciplinar e estudei geologia, química, bastante biologia e muita, muita física. Então, aos que pensam em fazer Oceanografia, saibam que é um curso de exatas, faço esse alerta, pois tive colegas meio desavisados, achavam que era mais uma biologia marinha e alguns acabaram por desistir no meio do caminho.
A Oceanografia é composta por 4 grandes áreas: física, química, geológica e biológica física, na qual a gente se especializa no último ano. São 5 anos ao todo, eu segui a parte da química e depois fiz meu mestrado em Oceanografia Física, Química e Geológica, focado para contaminação orgânica nos oceanos.
Foram 5 anos maravilhosos, de muito crescimento profissional; mas também pessoal. Claro que foram vários perrengues: ir pra casa ver minha família e amigos apenas uma vez ao ano era muito ruim, Rio Grande fica no extremo sul do Brasil, um lugar muito úmido e frio. Mas de lá, além dos meus diplomas de Graduação e Mestrado, trouxe comigo uma verdadeira família e uma mala cheia de recordações e muitas alegrias.

E como foi encarar o mercado?

Quando terminei meu mestrado, voltei para São Paulo, não foi fácil achar emprego. Hoje continua sendo um pouco difícil; pois, infelizmente, é um mercado e profissão pouco conhecidos e reconhecidos no Brasil. Depois de 6 meses procurando uma vaga, fui contratada para dar aula para o curso de Oceanografia na Universidade Monte Serrat (UNIMONTE), em Santos.

Apesar de gratificante, essa experiência foi curta, 6 meses depois eu voltei para Rio Grande, desta vez contratada para uma empresa terceirizada da Petrobras, para realizar um trabalho de análise de derivados de petróleo em água e sedimento. Era um contrato de dois anos, que terminou em janeiro de 2015 e mais uma vez me vi desempregada.

Em 2015 me mudei para o Rio de Janeiro, a procura de novas oportunidades; porém, foi o pior ano para se procurar emprego na minha área, pois o Brasil passava por escândalos envolvendo a indústria petroleira e, como eu disse, aqui, a profissão é pouco conhecida, ficando meio restrita à empresas que prestam serviço a este tipo de mercado. Claro que não é só de petróleo que um oceanógrafo vive, mas eu estava inserida num nicho específico, o da química.

Foram quase dois anos de procura, finalmente, em 2017 passei para o concurso de oficiais temporários da Marinha do Brasil. Hoje, sou primeiro-tenente e sirvo no Centro de Hidrografia da Marinha (CHM), na Divisão de Oceanografia Operacional, trabalho para o Programa Nacional de Boias (PNBOIA) e na coleta de dados oceanográficos, como correntes, onda, temperatura da água e do ar, entre outros. Como é possível observar, fiz uma mudança de área, da Oceanografia Química para a Física, e essa migração foi muito importante para meu crescimento profissional, pois ampliou meu leque de conhecimento.

Saiba mais!
Para quem tiver interesse no trabalho que o CHM desenvolve, e também no PNBOIA, segue os links: www.marinha.mil.br/chm/
www.marinha.mil.br/chm/dados-do-goos-brasil/pnboia
www.goosbrasil.org/pnboia/

 

 

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