Nesta sexta-feira (4), a invasão russa à Ucrânia chega ao seu nono dia. O mundo acompanha perplexo o cenário de guerra. Até o momento, ainda persiste a expectativa de um acordo entre as partes. Para analisar o conflito, entrevistamos Hilário Xavier, Prof de História e de Atualidades do Colégio SOS – Objetivo. Confira.
Que razões levaram a Rússia a invadir a Ucrânia?
Vladimir Putin, político de carreira desde o período da extinta União Soviética, ex-membro da KGB. Putin, num artigo recente deixou bem claro a sua revolta e indignação desde a extinção da antiga União Soviética, por Mikhail Gorbatchov, no início dos anos 90. Ele como político nunca reconheceu a independência da Ucrânia e de antigas áreas que compunham a antiga União Soviética.
Além disso, a Ucrânia tem uma posição geopolítica estratégica, grande parte do antigo arsenal soviético com o desmembramento da união soviética, ficou de posse da Ucrânia. A Ucrânia é um território muito rico em níquel, é um país agrícola, e grande parte dessas matérias primas e recursos da Ucrânia, Vladimir Putin cobiça há bastante tempo.
Além disso, ele é contrário à aproximação da Ucrânia com o mundo ocidental, a entrada da Ucrânia na OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte); e ele exige que a OTAN retraia suas fronteiras ao período de 1997. Ou seja, que ela mantenha o tamanho que a OTAN possuía até 1997 e não inclua depois disso países fronteiriços da Rússia, países que compunham a antiga União Soviética, dentre eles, a Ucrânia.
Além disso, Vladimir Putin reivindica o reconhecimento da região da Criméia e ele exige o reconhecimento da independência da área separatista da Ucrânia pró-Rússia. Também é importante salientar que Vladimir Putin enfrenta uma grave crise de popularidade e ele imaginou que uma vitória sobre a Ucrânia, o sucesso militar teria auxiliado na recuperação de sua popularidade, algo completamente equivocado, já que a própria opinião pública, o próprio povo russo tem se mostrado contra esse período de guerra em razão das pesadas sanções que a Rússia vem sofrendo sobre o comando de Joe Biden, presidente dos Estados Unidos.
Como analisa o atual conflito?
Vivemos um período pandêmico, o mundo se encontra em forte retração econômica, vários países com números deficitários, economias cambaleantes. Seria, com certeza, o pior momento, o pior cenário para um conflito dessa magnitude. Porém é importante lembrar que Vladimir Putin nunca foi um globalista, ele não é um indivíduo preocupado com consequências e sanções econômicas de longo prazo. Ele colocou seu projeto pessoal à frente do interesse do próprio povo russo, porque a Rússia vem sofrendo sérias sanções, já foi expulsa de diversos organismos econômicos internacionais. A Rússia foi excluída da próxima Copa do Mundo, porém Vladimir Putin não é indivíduo que coloca na balança um cenário pandêmico, um cenário de crise. Ele colocou seu projeto, eu diria de uma nova União Soviética, uma demonstração de força perante o Ocidente à frente de interesses internacionais.
E, com certeza, as consequências serão de longo prazo, porque em razão da pandemia, somada à esse questão, essa crise em toda a região do leste europeu e da eurásia, teremos reflexos econômicos de longo prazo, e o mundo que já enfrentava uma séria crise econômica, com certeza terá mais dificuldades para se recuperar economicamente por conta dos efeitos negativos dessa guerra, já que a Rússia é fornecedora de uma série de matérias-primas, juntamente com a Ucrânia, isso vai prejudicar o mercado global a longo prazo.
E a posição do Brasil?
O Brasil deveria seguir o exemplo de outras nações e condenar o ataque que Vladimir Putin fez contra a Ucrânia. Nesse caso em especifico, a suposta neutralidade que a supremacia brasileira vem apresentando é nociva ao país, em razão de que Estados Unidos e outras grandes potências têm um posicionamento claramente contrário às últimas ações tomadas por Vladimir Putin e a invasão da Ucrânia. Diplomaticamente para o Brasil é terrível esse posicionamento supostamente neutro de não condenar abertamente o ataque.
Quais as consequências deste conflito para a economia atual e do nosso país?
Para o Brasil, sim, podemos ter reflexos extremamente negativos em razão da dependência que o Brasil tem de uma série de agrotóxicos que são fornecidos pela Rússia, o Brasil também importa muitos produtos da Ucrânia, essa guerra de ambos os lados pode trazer consequências financeiras de longo prazo para o Brasil. Pode encarecer o preço do pão, porque o Brasil importa trigo da Ucrânia, o Brasil também comercializa o níquel com os ucranianos, tem a dependência do petróleo russo. Essa guerra não é boa para ninguém. Isso interfere no preço das commodities. A longo prazo reflexo pro Brasil, além do prejuízo diplomático, diante do posicionamento neutro do governo brasileiro quando grandes potências condenam o ataque e também consequências financeiras já que o Brasil tem uma relação comercial muito intensa com países do leste europeu.
Acredita numa terceira Guerra Mundial?
Não, eu não acredito numa terceira guerra mundial, é um certo exagero, principalmente em razão do país mais poderoso do mundo ser governado por um democrata. Joe Biden não tem uma tradição belicista desde que ele tomou posse, o seu posicionamento foi no sentido de desarmamento, de tirar tropas que historicamente estavam alocadas em países estrangeiros. Pelo posicionamento mais diplomático e pacifista de Joe Biden, eu não acredito numa terceira guerra mundial, porque para tal seria necessário um ataque dos Estados Unidos à Rússia, a China tomando as dores da Rússia, declarando guerra dos Estados Unidos, seria necessária uma enorme cadeia de acontecimentos. Os Estados Unidos enfrentam uma forte crise econômica em razão da pandemia, não acredito que Joe Biden vai mergulhar o país num conflito dessa magnitude. Eu imagino que, mais cedo ou mais tarde, em razão das fortes pressões econômicas a Rússia vai ser forçada a recuar e um tratado de paz pode ser costurado entre russos e ucranianos.