Quando se trata de trabalhar a memória do barro e lhe dar vida, Socorro é uma cidade que tem história e tradição, das antigas olarias que forjavam os tijolos para casas aos ateliês nos quais as peças de cerâmica vão desde o singelo artesanato às inusitadas e singulares peças de arte. Após dois anos abrigando a exposição em homenagem ao dia do ceramista, este ano, nosso museu abrigou parte da 6ª edição do “Universo Cerâmico”, em parceria com a galeria paulista “Espaço Tsuru”, da ceramista Eliana Tsuru.
Foram 27 obras inscritas e 18 selecionadas, expostas de três de julho a 11 de agosto; dentre as quais 10 de alunos do Ateliê Cerâmica Rosa Pereira. Dentre os alunos deste tradicional ateliê Adnar Yussa Furuzawa, Bruno Neto Ginghini, Claudio Bourroul Wertheimer, Hélcio Moura, Cardoso, Irma Rieli S. Guarini, Neide Alves, Régis Angelo Morais da Silva e Rosane Ker criaram as obras especialmente para a exposição.
Interessante essa participação expressiva de pessoas que têm na cerâmica uma atividade artística a ser trabalhada com a orientação de uma artista que se fez professora e multiplica seu amor pelo ofício criativo. Há mais de cinco anos Rosa Pereira ensina a técnica da modelagem na argila, ela conta que cresceu junto deste processo, buscando sempre se aperfeiçoar em diversos cursos até começar a devolver o que aprendeu ao longo dos anos. “Cresci fazendo vasinhos de argila do quintal, de forma ingênua e amorosa adorava presentear alguns professores com eles. Mal sabia naquela época o quanto receberia nesta troca de presente pelo conhecimento adquirido e que um dia também me tornaria professora”, conta.
“Depois de 2 anos sem fazer o dia do Ceramista me aventurei ao modelo que foi o “Universo Cerâmico” e junto vieram quase todos os meus alunos, alguns com peças já em acabamento e outros se descobriram como artistas no susto. O tempo era curto para grandes produções e, mesmo assim, tudo saiu perfeito, apesar de alguns incômodos no caminho”, completa.
Na 2ª etapa do projeto, a professora e os alunos Cláudio, Irma, Regis e Helcio tiveram as obras levadas a edição de SP ficando expostas no West Plaza, Galeria Cia Arte Cultura em SP. “Quando soube da seleção surgiu um orgulho gigante que explodia no coração de saber que o caminho está correto e na direção certa”, comenta Rosa, feliz.
Premiação no West Plaza
Em 21 de agosto veio a grande satisfação: Rosa e 4 alunos tiveram as obras levadas para a exposição em São Paulo, junto com artistas de vários locais do país. Ainda, para a alegria de todos, Hélcio Moura recebeu 3ª lugar na categoria escultura.
Além de Helcio, Rosa Pereira e Marinilda Boulay receberam homenagem com Menção Honrosa. Os jurados foram importantes nomes no meio: Carlos Gama, Leila Mirandola, Nadia Saad, Val Saltinho, Célia Rachel e Daiuto Cursino. Todos os artistas que participaram receberam um certificado, o catálogo oficial e uma leitura apreciativa com a análise da obra pelo crítico de arte Oscar D’Ambrosio.
Ambientalismo e arte
A artista múltipla Mainilda Boulay, nessa exposição, trabalhou com conceitos relacionados aos nossos povos originários, que são os que mais sofrem com as queimadas que destroem as florestas. Na montagem da exposição, ao redor das obras foram colocadas, por exemplo, máscaras indígenas. As esculturas têm as bases de madeira recuperada, ambas “pedaços” de uma árvore. Na exposição temos um pouco de terra bem seca encima de cada base. Entre a sequência de esculturas nessa linha está a “Chove o seco”. “Os desmatamentos, as queimadas na Amazônia e no Pantanal são motivos de preocupação para ambientalistas, mas também para nós artistas devido à grande importância desse bioma não somente para todo o país, como também para o mundo devido à sua grande biodiversidade. A umidade destas florestas chega a produzir chuvas para regiões distantes de sua área de ocorrência, como para o estado de São Paulo, onde cada vez mais vai “Chover o seco” se esse processo de destruição não for revertido, sabendo-se inclusive que por conta deste processo as próximas pandemias podem vir da Amazônia.”, comenta Marinilda.