Foi em de fevereiro de 1999, na gestão do prefeito Wandir de Faria que o doutor Roberto Tadeu Risso chamou Maria Henriqueta de Paiva para formar a primeira equipe de fisioterapia da Santa Casa, vinculada ao SUS, iniciativa pioneira na região. Desde de então, ela é a fisioterapeuta responsável por esse Setor do Hospital. O atual prédio, que fica nos fundos do hospital, foi concluído um ano após a criação do setor, que possui certa autonomia. A primeira equipe contou também com Clarice Fruchi, Célia e Neia. Hoje, a fisioterapia do hospital não se limita ao SUS, atende também convênios e particular. Confira a entrevista com Henriqueta:

Você está aqui há 33 anos, pode contar sobre a rotina?

Nossa rotina é bastante movimentada, pois apesar de hoje dividirmos o atendimento do SUS com o Centro de Reabilitação da Prefeitura, a demanda ainda é grande. Fazemos a avaliação dos pacientes de acordo com o encaminhamento médico, orientamos sobre procedimentos importantes para os tratamentos específicos e a reabilitação e acompanhamos as sequências de exercícios de fortalecimento muscular. Os pacientes também recebem a terapia por meio de aparelhos.

Ao longo desses anos, houve mudança na terapia?

Não. Houve avanços no que se refere à tecnologia, porém continuamos com a mesma linha de tratamento e fazemos uso dos mesmos aparelhos.

Quais seriam esses aparelhos?

Temos dois Têns, popularmente conhecido por choquinho; dois ultrassons usados em áreas pequenas, três de ondas curtas, uma mesa de tração, um de eletroestimulação e dois fornos de beer. Também fazemos uso de turbilhão e parafina.

E em relação à demanda e aos pacientes, algo mudou?

Apesar de hoje a cidade contar com outro centro de fisioterapia vinculado ao SUS e fisioterapeutas particulares, a demanda ainda é grande. Já em relação ao tipo de paciente, ao longo desses anos, observamos uma mudança bastante grande na cidade, no que se refere tanto à estrutura relacionada com a saúde vinculada não apenas aos tratamentos médico-hospitalares, mas também à prática de atividades físicas e consciência sobre hábitos alimentares.

As condições de vida, de um modo geral, melhoraram muito e isso se deve ao trabalho das diversas prefeituras. Essa melhora parece ter refletido no tipo de paciente que nos procura. Em nosso começo, a maioria das pessoas que recebíamos vinha por ter sofrido um derrame. Alguns voltavam sucessivas vezes, tendo mais de um AVC. Já hoje predominam os jovens, em especial até 18 anos, com acidentes normalmente envolvendo fraturas. Na faixa entre 20 a 60 atendemos poucas pessoas. Depois temos os idosos cuja demanda maior é para questões crônicas como artrite, artrose, bursites e hérnias; por exemplo.

A sua equipe é unanime em dizer que esse é um trabalho gratificante, pois é muito bom poder participar da reabilitação das pessoas. Você citaria algum caso específico de recuperação que teria marcado você?

Muitas pessoas passaram por aqui nesses 33 anos e muitos casos nos trouxeram alegrias e outros choros. No geral, os casos que mais marcam são os de pessoas desenganadas que conseguem retomar suas atividades rotineiras. Esses casos marcam muito a todos, até mesmo aos demais pacientes. Posso citar o caso do Fernando, do Sambistas de Tradição, que chegou aqui Tetraplégico, devido à uma compressão medular após um acidente. Estava completamente desenganado e hoje leva uma vida normal.

Algumas pessoas também marcam de modo singelo, como o Helio Grimberg que faleceu há poucos dias, com 94 anos e nos deixará muitas saudades. Por 23 anos ele fazia fisioterapia particular para manter a saúde física. Ou o João Fontana, que fez fisioterapia por ter quebrado o pé e depois nos adotou. Vinha sempre, gostava de nos homenagear e também de celebrar nosso aniversário.

Houve algum caso que a fizesse chorar?

Sim. Alguns, mais o mais triste foi o do Ricardinho, um menino adorável que tinha hidrocefalia. Choramos muito quando ele faleceu.

Tem algo a comentar?

Gostaria de agradecer ao doutor Roberto e a todos os que apoiam a fisioterapia. Esperamos continuar podendo contribuir, por meio de nosso trabalho, para a melhor qualidade de vida das pessoas.

Equipe atual é formada por Henriqueta, Mariana, Hingridis e Josi

Equipe

Depois de Henriqueta, a agente de saúde Hingridis Nicoletti Nascimento é a mais antiga funcionária, com 11 anos de casa. “É um trabalho gratificante”, conta. “Fiquei muito feliz com a oportunidade de fazer parte da equipe. Quando pequena, costumava trazer minha avó para tratamento, após diversos AVCs; então já conhecia o lugar e achava que aprenderia coisas importantes para melhor cuidar dela em casa. Não tive tempo, ela faleceu em seguida”, completa. Hingridis relembra que ao início chorava muito, quando não era observada a melhora de algum paciente ou quando eles passavam por algo muito difícil. ”Tudo foi um aprendizado, compreendi que é importante ser profissional, no sentido de não “adotar” quem passa pela fisioterapia. É preciso dar atenção a todos, sem nos envolver”, explica.

A fisioterapeuta Mariana Finger Tavares, há quase 5 anos na equipe conta que a fisioterapia surgiu por acaso, pelas mãos de Deus em sua vida. De adolescente queria ser dentista e por não passar direto na faculdade foi fazer o curso de prótese dentária e não gostou. Mas, foi nesse curso que teve seu primeiro contato com o universo da fisioterapia, por meio de uma professora. “Me encantei, fiquei realmente apaixonada e percebi que era a profissão para minha vida”, revela. Ela comenta que o trabalho está muito relacionado ao emocional das pessoas, confiança, autoestima e fé. “Não há nada como ver a recuperação de um paciente. Não tem preço”, comenta.

Josi Aparecida Ferrari, há 9 anos na fisio, também agente de saúde, compartilha do sentimento de suas colegas. Ela conta como se comemora cada avanço dos pacientes. “É preciso trabalhar o emocional das pessoas, porque às vezes chegam com problemas complicados e passam por situações bastante difíceis”, diz. Ela relata também que algumas vezes estão desenganados e o começo da melhora se faz no plano emocional, construindo confiança.