“No orgânico o meio ambiente é respeitado, a planta dá resposta, trabalha a favor dela, mostra que nós não somos uma raça superior”, conta Célio, produtor de tomates

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Um número que cresce a cada ano: pessoas que mudam seus hábitos alimentares e optam por alimentos mais saudáveis, e consumidores cada vez mais interessados em saber a procedência do alimento que põe na mesa. E isso ocorre principalmente quando o assunto é frutas, verduras e leguminosas, sempre alvos do uso intenso de defensivos agrícolas.

Em solo socorrense, já temos a opção por alimentos orgânicos. Prova disso é o agricultor Célio Rodrigues de Morais, de 46 anos, que cultiva tomates orgânicos. Filho de Carlos Rodrigues de Morais e de Maria Catarina Bonetti de Morais, a matriarca que deu seu nome a um dos sítios da família – o “Santa Catarina” ; o outro é o sítio “Boa Esperança”.

Célio nos recebeu em sua casa, no Bairro Marianos, e nos mostrou como é uma estufa de tomates. Todo esse conhecimento ele carrega desde a infância, pois foi criado no sítio; depois veio a faculdade de Biologia e, dedicado, passou em 1º lugar no vestibular e ganhou o prêmio de melhor aluno, em homenagem feita na formatura, e de cujo curso trouxe a experiência técnica. Em julho de 2017 firmou uma parceria com Rosane Harder Ker, de 45 anos, formada em Nutrição e Administração de Empresas. “Meu sonho era produzir o que eu ia consumir”, diz Rosane, que é vegetariana e está trabalhando com Célio na produção orgânica.

A transição do cultivo convencional para o orgânico aconteceu em 1999, com a certificação para tomate e morango orgânico, quando esse tipo de cultivo estava começando, em Socorro. “Somos os pioneiros em cultivo orgânico”, conta Célio, que também já trabalhou na Copaíba e hoje é vice-presidente da instituição, como voluntário. A escolha aconteceu pela saúde, quando seu pai e irmão ficaram intoxicados pela exposição ao agrotóxico, explica Célio: “É o produtor quem mais sofre, pois fica em contato direto com o produto”, destaca.

O agricultor é certificado pela ANC – Associação de Agricultura Natural de Campinas e Região. Num futuro próximo, Célio e Rosana planejam trabalhar com a venda de processados de frutas e vegetais excedentes da horta, produtos para intolerantes à lactose, para vegetarianos e veganos.

Cultivo
Célio planta duas variedades de tomate orgânico: o italiano, que é versátil, tanto para molho como para salada, e o tomate holandês, lançado no Brasil há pouco tempo, é menor e mais doce. “É uma planta que precisa de muito manejo, como uma flor, mas é gratificante. Precisa conhecer a planta para cultivar, ter dedicação”, explica ele.

“O Célio tem sensibilidade para conhecer as plantas. O diferencial é a nutrição adequada; não é produção sistemática; a consistência, o perfume, é diferente”, comenta Rosane. Outra característica que difere do convencional é a durabilidade.

É muito interessante conhecer o processo! As estufas, os pés de tomate, carregados de frutos, todo o manejo e cuidado com que Célio e Rosane os tratam. As estufas recebem energia solar e a água é transportada pela gravidade, assim, evitando gastos. Célio observa muito o comportamento de seus antepassados em relação à agricultura. “Os antigos tinham conhecimento empírico, hoje, o agricultor perdeu a sensibilidade”, ressalta.

Outro fator é a relação que Célio e Rosane possuem com a terra. “Tenho ciência de que voltei para a agricultura com essa filosofia; no orgânico, o meio ambiente é respeitado, a planta dá resposta, trabalha a favor dela, mostra que nós não somos uma raça superior”, conta Célio. “Fazer parte de um sistema; quando você trata a planta com carinho, ela responde, e respeitamos até a lua, seguimos o calendário biodinâmico”, reforça Rosane.

Escoamento da produção
Célio vende seus produtos na feira na Praça do Fórum e na Feira do Produtor Orgânico, no Espaço do Produtor Rural, aos sábados, há quase três anos. Praticamente toda a produção fica em Socorro, restando um pouco para outro produtor, que compra para vender na feira de orgânicos de Bragança Paulista.

Para comercializar os tomates na feira da Praça do Fórum, Célio passou por um curso de sete meses, do sindicato em parceria com o SENAR, por meio do qual aprendeu até a montar o estande.

O preço do produto orgânico é um pouco mais alto que o convencional. “Pegou fama de mais caro”, relata o agricultor. Mas, para o produtor, é um preço estável o ano todo, não acompanha o mercado. É mais elevado por conta de utilizar mais mão de obra, que é escassa e cara, mas, nas feiras, chega a ser até mais barato que os produtos convencionais em supermercados.

Mas para ele preço justo é aquele que o produtor tem o custo de produção e coloca sua margem de lucro sem ser abusiva.

Ele conta, também, que a alta demanda por seus tomates começou quando as pessoas pegavam alguns tomates para experimentar e ele resolveu fazer degustação, o que foi muito positivo e alavancou as vendas.  “O consumidor tem que exigir o certificado do produtor”, comenta Célio, para evitar o risco de fraudes.

Segundo o MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o país conta com cerca de 16.000 produtores orgânicos cadastrados, número crescente a cada ano (dados retirados do site da Revista Globo Rural).

Serviço
Os tomates orgânicos produzidos por Célio podem ser encontrados nas feiras na Praça do Fórum, de sexta-feira e aos sábados, na Feira do Produtor Orgânico, no Espaço do Produtor Rural.

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