O período de gestação é sempre cheio de incertezas. De início, a felicidade da descoberta de gerar uma nova vida, mas o mal-estar pertinente e os enjoos são uma parte desagradável dessa nova fase, além das mudanças físicas e emocionais que tomam conta desses nove meses e depois, no período de amamentação. Para nos alertar sobre a nutrição, uma aliada muito importante para uma gravidez saudável e o bom desenvolvimento do bebê, a nutricionista Elaine Mantovani, respondeu algumas perguntas que pairam na cabeça das gestantes.
Qual é a média de ganho de peso durante a gestação?
A média de ganho de peso varia de acordo com a situação nutricional inicial da gestante, ou seja, IMC classificado como baixo peso, adequado, sobrepeso ou obeso terão diferentes recomendações, e ainda há uma faixa de peso recomendada por trimestre.
Para o primeiro trimestre, o ganho de peso não é muito relevante e podem acontecer três situações possíveis: diminuir até 3 kg, manter o peso pré-gestacional ou aumentar no máximo 2 kg.
Já para o segundo e terceiro trimestre há uma diferença no ganho de peso, pois as gestantes de baixo peso devem ganhar cerca de 500 g/semana, as com IMC adequado, em torno de 400 g/semana e as gestantes de sobrepeso e obesas, 200 g/semana.
Como deve ser a alimentação, que beneficie mãe e bebê?
Durante a gestação há um aumento da necessidade energética, em razão ao crescimento do feto, aumento da massa corporal da mãe e da placenta e, ainda, aumento do esforço materno cardiovascular e respiratório; por isso, é necessário um acréscimo de 300 Kcal/dia na alimentação da gestante, além do valor energético total, que é calculado de forma individual.
Para que a alimentação beneficie mãe e bebê, ela deve ser o mais saudável possível, com equilíbrio entre macro (carboidrato, proteínas e lipídios) e micronutrientes (vitaminas e minerais), principalmente ferro, cálcio, vitamina C, complexo B e ácido fólico; sendo assim, ela precisa conter leite e derivados, carnes, verduras, legumes e frutas.
Não é necessária uma alimentação sofisticada, mas simples e nutritiva; por exemplo, contendo leite e pão, preferencialmente integral, no café da manhã, arroz, feijão, carnes, além de verduras e legumes de no mínimo 3 tipos, acrescidos de uma sobremesa com fruta fonte de vitamina C, aumentando, assim, a absorção de ferro; lanche da tarde e jantar parecidos com o café da manhã e almoço, respectivamente.
Porém, após o primeiro trimestre, geralmente existe a prescrição de um suplemento vitamínico.
Gestantes obesas, ou que já tiveram algum transtorno alimentar no passado, requerem mais cuidados?
Sim, sendo que a obesidade, na gestação, implica em numerosos riscos para a mãe e para o bebê, como por exemplo, alterações endocrínicas, resistência a insulina e diabete gestacional, síndrome hipertensiva, abortos espontâneos, parto prematuro ou tardio, fora os riscos no pós-parto, sendo necessário um acompanhamento nutricional desde o início da gestação. Outro dado importante é que, atualmente, o número de gestantes obesas é muito maior que no passado, o que requer cuidados redobrados.
Por outro lado, gestantes que por ventura tiveram algum transtorno alimentar e apresentam baixo peso, também apresentam risco significativo, pois ficam mais propensas a infecções, e para o bebê, pode haver uma diminuição do crescimento intrauterino, prematuridade e baixo peso ao nascer, necessitando, também, de acompanhamento nutricional para o ganho de peso correto e que não acarrete problemas para mãe e para o bebê.
Tem alguma dica para superar os enjoos daquelas futuras mães que não conseguem comer direito, principalmente no início da gestação?
Tem, sim, e mesmo trazendo muitos transtornos para as gestantes em início de gravidez, eles são normais e acontecem pela diminuição do suco gástrico, diminuição também da motilidade gástrica e maior tempo de esvaziamento gástrico.
Para que isso possa ser amenizado, pois normalmente passará ao término do primeiro trimestre, é importante maior fracionamento da dieta, dividindo as refeições em até oito vezes ao dia e em menor quantidade; em cada horário, também se deve evitar os alimentos com alto teor de gordura e frituras, usar biscoitos tipo cream cracker, água e sal ou torradas, antes de se levantar pela manhã e também não deitar após as refeições.
E, se a gestante estiver sofrendo com azia, ela também deve evitar o café, o doce, o álcool que, aliás, deve ser evitando por qualquer gestante, além de frituras, chás tipo mate, chá verde e chá preto.
E durante a amamentação? Quais os cuidados com a alimentação?
A OMS e o Ministério da Saúde orientam o aleitamento materno exclusivo até os 6 meses e, depois, com a introdução alimentar, até os 2 anos, sempre se lembrando dos enormes benefícios que a amamentação traz para a mãe e para o bebê.
Durante essa fase, é importante que a mãe mantenha os mesmos parâmetros saudáveis que foram feitos durante a gestação, inclusive com as frutas cítricas, após as refeições.
A mãe também deve tomar acima de 2l de água/dia, para estimular a produção de leite, usar peixe em torno de duas vezes na semana, incluindo-se aí também a sardinha e o atum, além de linhaça batida e chia para aumentar a ingestão de ômega 3. Também é importante o consumo adequado de carboidratos, proteínas e lipídeos e, ainda, frutas, verduras e legumes.
Além disso, tudo o que provocar mal-estar gástrico na mãe, pode aumentar a incidência de cólicas no bebê, que ainda apresenta uma imaturidade intestinal, portanto, é importante que a mãe observe, para cada alimento ingerido, que reação o bebê apresenta.
Outro fator importante que deve ser observado, por esta imaturidade intestinal, é respeitar um intervalo mínimo de 2h entre as mamadas, impedindo, assim, o aumento das cólicas do bebê.
Comprovadamente, as restrições ficariam por conta das bebidas alcoólicas e também do café, que poderiam provocar diminuição dos reflexos fisiológicos da lactação, além de insônia e irritabilidade.
Algo mais?
Acho importante desfazer alguns mitos, primeiro em relação à amamentação, como por exemplo o fato de que ingerir cerveja preta aumenta o leite, sendo que ela é uma bebida alcoólica e traz prejuízo, além de canjica, arroz doce e outros. Comprovadamente, a produção de leite será normal ou até aumentada com uma boa ingestão de água e alimentação equilibrada.
Outro mito é em relação aos chás que a gestante pode ou não tomar, como por exemplo o chá de erva doce, erva cidreira e camomila, os quais não há problema ser tomado, só ficando restrito o chá de canela, chá verde, chá mate e chá preto.
Serviço
A dra. Eliane Mantovani é nutricionista (CRN 8980 3ª Região-SP), especialista em Nutrição Clínica, Reeducação Alimentar, Patologias da Nutrição com orientações individualizadas e avaliação por Bioimpedância. Atende em seu consultório, à Av. Irmãos Picarelli, 217, loja 3, telefone 3895-4680.