Nos últimos meses, diversos meios de comunicação relataram o problema do autismo, explicando as dificuldades e tratamento de crianças e adultos portadores desse distúrbio.
Na rede municipal de ensino de Socorro há 3 alunos que apresentam o diagnóstico de autismo. De acordo com a assessoria da prefeitura, estes alunos frequentam o ensino regular e, em outro horário, recebem um atendimento individualizado, por professores com formação em educação especial, na sala de Recursos Multifuncionais, onde é realizado o Atendimento Educacional Especializado.
Dos 96 alunos da APAE de Socorro, 17 são autistas e, na instituição, é utilizado o método TEACCH (Treatmentand Educationof Autisticend Related Communication Handicapped Children – Tratamento e educação para crianças autistas e com distúrbios correlatos da comunicação), desenvolvido nos EUA, com grande aplicação em todo mundo.
Para falar um pouco mais sobre a doença, entrevistamos a pedagoga Nice Baumstein, estudiosa de Autismo e outros transtornos do desenvolvimento, que coordena as salas de Autismo da APAE e é mãe de Alex, autista, de 23 anos de idade.
OM – O que é autismo?
É uma desordem do desenvolvimento que se inicia muito cedo, na infância, e se caracteriza por prejuízo qualitativo da interação social, da comunicação verbal e não verbal, da atitude imaginativa e por marcada restrição em seu repertório de atividades e interesses.
OM – A partir de que idade é possível detectar o autismo?
Não existe um teste médico específico para o diagnóstico de autismo. O diagnóstico é feito pela observação do comportamento e complementado por testes educacionais e psicológicos. Do nascimento até pelo menos os 36 meses de vida, toda criança deve ser testada durante as visitas de rotina ao seu médico, para ver se atingiu as etapas de desenvolvimento previstas.
OM – A que sinais os pais devem ficar atentos, antes dessa idade?
Sintomas em crianças menores de 36 meses:
Interação social e reciprocidade
• imitação pobre de ações e gestos
• falta de resposta a estímulos sociais
• interesse mínimo em jogos sociais
• expressão facial inerte
• atividade solitária
Comunicação
• atraso na aquisição de linguagem
• pouca utilização de gestos
• falha do contato visual para comunicação
• falha em chamar atenção para si
Atividades restritivas e repetitivas
• repetição motora (ex. girar objetos)
• repetição de atividades (rigidez de rotinas)
• ligação a objetos não usuais
• interesse visual não usual
• não resposta a sons e próprio nome
OM – Quais são os sintomas mais comuns? Como o diagnóstico é feito?
O diagnóstico é feito pela observação clínica por profissionais treinados; ainda não existem exames laboratoriais ou de imagens que detectem o Autismo.
OM – Quais são as causas do autismo?
O autismo não é um transtorno com uma causa, mas um grupo de transtornos com muitas causas diferentes. A maioria dos casos, provavelmente, é por uma combinação de fatores genéticos que interagem com fatores ambientais.
OM – O autismo é uma síndrome genética? É proveniente do pai ou da mãe?
Não! Não é exclusivamente genética, nem é herdada dos pais. Há componentes genéticos, ou seja, determinada combinação de genes, somada a fatores ambientais e possíveis gatilhos ainda desconhecidos, desencadeiam o Autismo. O bebê já nasce autista.
OM – O autismo é mais frequente no sexo masculino ou feminino? Por quê?
Sim, o Autismo é mais frequente em meninos, na proporção de 4 para 1; ainda não sabemos o porquê desta diferença; alguns cientistas acreditam que tenha uma relação com variações hormonais, durante a gestação.
OM – O que os pais devem fazer quando descobrem que o filho tem autismo?
Devem procurar ajuda com profissionais experientes na síndrome, ou ajuda em instituições especializadas.
OM – Autismo tem tratamento? Como a APAE o realiza?
O Autismo não tem cura, mas tem tratamento. A abordagem deve ser multidisciplinar, envolvendo neurologistas, psiquiatras, fonoaudiólogos, pedagogos, psicólogos, terapeutas ocupacionais e fisioterapeutas. Existem métodos educacionais desenvolvidos nas últimas três décadas, nos EUA e na Europa, que devem ser utilizados o mais precocemente possível, que possibilitam um desenvolvimento com mais independência. A Apae utiliza o método TEACCH), desenvolvido nos EUA, com grande aplicação em todo mundo.
OM – É possível, ao autista, levar uma vida normal?
Depende do grau de acometimento. Existem casos leves, em que a criança tem a inteligência preservada e alto grau de comunicação, com excelentes prognósticos, e casos severos, com deficiência intelectual e alto comprometimento cognitivo. No primeiro caso, consegue-se uma vida próxima à normalidade e, no segundo, o objetivo é conseguir a melhor qualidade de vida possível, com o máximo de independência.
OM – Algo mais?
O Autismo afeta, segundo as últimas estatísticas, 62 casos para cada 10.000 habitantes; se pensarmos na população brasileira, teríamos então, aproximadamente um milhão e cem mil autistas, vivendo entre nós. Onde estão? Como estão sendo tratados? Quanto as autoridades investem na educação e na saúde deles?