Entre os dias 27 de agosto e 1º de setembro, 18 alunos do Ensino Médio da EE Narciso Pieroni, acompanhados pelas professoras Kátia Almeida, de Química, e Caroline Hodel, de História, visitaram o município de Mariana, Minas Gerais, para uma pesquisa sobre a situação atual da região, cerca de dois anos após o acidente, ocorrido em 5 de novembro de 2015.
A oportunidade surgiu por meio do projeto do governo, Ensino Médio Inovador, que tem como objetivo acabar com a evasão escolar e incentivar a iniciação científica. “Sempre tive curiosidade de saber como a população daquela região está vivendo, depois de tudo o que aconteceu e, quando o projeto veio para nós, chegamos à conclusão que seria uma ótima oportunidade, além de uma experiência que jamais esqueceríamos. E estávamos certas!”, conta Kátia.
A aplicação do projeto, na prática, envolveu tanto a interação com outros estudantes, como uma imersão na vida de quem viveu e ainda está vivendo as consequências do acidente. “Tudo marcou! Desde a visita a um colégio do Ensino Fundamental, no qual levamos uma das alunas vestida de princesa, com a qual os alunos ficaram encantados; parecia que estavam vendo, na frente deles, a materialização de um sonho. Para os estudantes do Ensino Médio, levamos algumas cartas escritas pelos nossos e, agora, a diretora da escola enviará para nós, a resposta escrita por eles, que já foram convidados para visitar nossa cidade”, conta Caroline.
Além do contato com as escolas, os visitantes socorrenses foram até a UFOP, onde entrevistaram diversas pessoas, entre elas, as mais marcantes: dois moradores de Bento Rodrigues, distrito de Mariana, a primeira cidade a ser atingida pelo tsunami de 62 milhões de metros cúbicos de lama. “São duas gerações, apresentando suas versões de um mesmo fato. Primeiro o Marcos, de 52 anos, que não estava no local, na hora da tragédia, porém, sua família inteira estava lá; ele contou tudo, de forma detalhada. Disse que, se tivesse novamente a oportunidade de voltar para sua antiga casa, não pensaria duas vezes, porém, ela está tomada de água, em razão do dique construído pela Samarco. Porém, ao mesmo tempo, ele teme que não esteja vivo para ver a Justiça feita”, comentam os alunos.
“Outro caso foi o de Júlio, de 18 anos. De seu relato, o que mais marcou foi a parte em que ele se lembra que teve a única lembrança que tinha de seu pai, já morto, levada por saqueadores. Era uma TV, que ficava na casa da irmã, que não foi atingida pela lama, porém, saquearam o local, levando tudo de lá… Assim que ouvi seu relato, comecei a pensar como desvalorizamos o que temos. Tenho o meu pai aqui, vivo, do meu lado… E aquele jovem teve a única lembrança que tinha dele, tirada de suas mãos”, comentou uma estudante.
“Histórias de diversas famílias foram perdidas em meio à lama: suas casas, suas fotos e, em muitos casos, suas vidas!”, lamentam os estudantes, que também tiveram contato com diversas autoridades que estão tratando do assunto, inclusive o vice-prefeito de Mariana e o promotor. “Com exceção do Ministério Público, que está na luta para punir os responsáveis, em todas as conversas, o assunto central era sempre dinheiro, o quando a Prefeitura vai precisar para honrar as contas, o quanto a arrecadação vai cair, sempre as cifras, e nada sobre a população; isso foi lamentável”, lamentam eles.
O que mais chocou os estudantes, durante as visitas, foi uma placa, dizendo: “Fica, Samarco”. “Foi a empresa quem causou a tragédia, porém, a cidade ainda vive da mineração, ou seja, a população depende dela. Dos cerca de seis mil empregados que tinha, hoje restam mil, que mantém o prédio em funcionamento, porém, a parte de mineração está desativada. Isso sem falar dos diversos estabelecimentos que fecharam”, contam os alunos.
Uma das estudantes relata que, em conversa com o vice-prefeito, ouviu que um dos projetos é focar no Turismo, aproveitar a parte histórica do município e buscar recursos para investir. “Ele, inclusive, se interessou por Socorro. Levamos alguns kits de divulgação no nosso Turismo, e foi bastante elogiado”, conta ela.
“Esperamos que eles consigam recomeçar suas vidas. Sabemos que não é fácil e a ajuda de custo é insuficiente, mas a união que os moradores daquela região têm entre si, nos faz acreditar que eles possam conseguir”, encerram eles.
Aplicação na sala de aula
Após a experiência vivida em Mariana-MG, os estudantes do terceiro ano terão que fazer um TCC baseado em tudo que passaram, durante a visita. Já os alunos do primeiro e segundo ano farão trabalhos nas áreas de Química e História, orientados pelas professoras Katia e Caroline.
“Além disso, já fomos informadas a respeito de uma exposição com as imagens que fizemos. Porém, acredito que o trabalho que retratará de forma mais fiel tudo o que passamos, é o documentário que vamos produzir, que reunirá fotos, vídeos e depoimentos”, contam elas. “A ideia é exibir o filme no dia 5 de novembro, data em que a tragédia completará dois anos. Pretendemos, também, se tivermos a oportunidade, tocar a sirene que não foi acionada para alarmar os moradores, antes do acidente. O gesto é repetido todos os dias 5 de cada mês, para simbolizar e lembrar do fato”, destacam os alunos, que finalizam, agradecendo o apoio que receberam da diretora Marisa Conceição Pieroni de Oliveira, a todos os patrocinadores e colaboradores que fizeram o projeto acontecer, e convidam todos para curtir a fan page, no Facebook, ProEmi – Projeto Mariana, no qual foram publicados alguns registros desta experiência.