Dois casos recentes em Socorro – um envolvendo um morador de uma casa que pegou fogo e que guardava 21 botijões de gás na residência, entre outros objetos; e outro, de um homem que residia no Centro e de cuja moradia foram retirados nove caminhões de lixo – revelaram que acumuladores não existem apenas em seriados de tevê e estão bem próximos de nós.
Acumuladores compulsivos geralmente são pessoas que têm uma grande dificuldade em se descartar ou deixar seus pertences, mesmo que já não tenham qualquer utilidade. A pessoa portadora do transtorno – conhecido como Síndrome de Diógenes – tem a mania de adquirir ilimitadamente bens, animais ou objetos sem valor, vivendo em condições insalubres.
O psicólogo Cláudio Bergamo explica que nos Estados Unidos, onde existem levantamentos mais confiáveis a respeito, essa síndrome acomete uma a cada quatro pessoas. “Não é nada fácil admitir que se é um acumulador ou que está começando a guardar coisas”, explica o psicólogo nessa entrevista ao O Município, onde ele aborda vários aspectos desse transtorno psíquico.
O que leva uma pessoa a se tornar um acumulador compulsivo?
As causas são as mais variadas possíveis. Uma delas é a ansiedade, tendências à depressão, dificuldade de desfazer de objetos de bens materiais, angústias, perdas – muitas vezes irreparáveis. A pessoa pode se sentir sozinha e essa solidão pode ser motivo de compensação para compra de materiais.
Existe em nós um mecanismo de defesa de compensação muito grande, uma busca que pode chegar a um ponto de insalubridade. Uma transgressão contra os próprios sentimentos.
E o que fazer? No caso de acumuladores de animais, a intervenção é policial, pois se trata de seres vivos. No caso de bens materiais, o acúmulo também pode ocasionar insalubridade
Vivemos numa sociedade tipicamente consumista, acumuladora e temos que pensar como interagir com essas pessoas e com seus problemas: a solidão é um problema típico.
Como saber se alguém está começando a acumular?
O acumulador geralmente está restrito ao seu ambiente privado. Então, quem realmente toma consciência é ela mesma. A acumulação vai se transformando num transtorno mental de difícil acesso porque depende de denúncia, de uma série de fatores e geralmente a intervenção vem de fora. É com cautela que inicia um processo de abordagem dessa pessoa. Se não há uma interferência externa dificilmente saberá o que se passa.
Podemos dizer que quando a quantidade de objetos, ou também animais passam a incomodar a própria pessoa ou família, pode ser o início da acumulação?
Sim. A pessoa de certa forma sabe que está colecionando, acumulando e se sente invadida assediada, porque os objetos, os animais são dela.
A interação e a percepção faz com que a pessoa clarifique aquele colecionismo que forma sua própria identidade.O apego é uma coisa muito potente e é sempre com muito cuidado que se aborda esse tipo de assunto. A sociedade deve estar atenta e se mobilizar para colaborar com aquela pessoa.
Como se dá o tratamento?
Uma vez resolvido o problema de estrutura da pessoa na casa, com a ajuda e acompanhamento de um assistente social, o paciente passará por uma terapia de apoio para tratar das questões análogas e desencadeantes à síndrome de acumulação, na própria residência.
Que conselhos daria para quem quer ajudar um acumulador?
Saber se a pessoa quer ser ajudada. Tentar identificar a percepção da pessoa em relação ao seu distúrbio. Propor, na sequência, a ajuda de psicólogo e assistente social.
Serviço – Prof. Dr Claudio A. R. Bergamo – psicólogo (CRP) 06-10017 atende em Socorro, na Policlínica São Lucas, à Rua Padre Antonio Sampaio, 183, Centro, fone: 3895-1365 / 3855-2737.