Um estudo realizado pela Copaíba, há alguns anos, aponta que a situa-ção das margens do rio do Peixe é bastante crítica. Desde sua nascente, na região de Senador Amaral e Munhoz, no estado de Minas Gerais, até desaguar no Rio Mogi Guaçu, em Itapira/SP, o rio do Peixe percorre aproximadamente 150 km. Em toda sua extensão, menos de 50% das suas margens têm vegetação nativa – a mata ciliar, que exerce uma importante função de proteger os cursos d’água. O pouco de mata ciliar que existe está dividido em numerosos fragmentos florestais, em sua grande maioria menores que 1 ha, ou seja, matas muito pequenas. Quanto menor o remanescente de mata nativa, menores as chances de ele contribuir para abrigar e refugiar os animais silvestres, proporcionar alimento a esses animais, proteger a água de contaminações, colaborar com a recarga de água, entre outras funções importantes.
Além de serem pequenas, essas matas desconectadas recebem interferência direta, muitas vezes pelo acesso do gado, que pisoteia e impede que a regeneração da floresta aconteça, desestruturando o solo e causando erosão e assoreamento do rio.
Socorro é o segundo município, de acordo com esse estudo, que apresenta maior área de pastagens nas Áreas de Preservação Permanente (APPs) do rio do Peixe, perdendo apenas para Itapira. São cerca de 160 hectares de áreas que margeiam o rio do Peixe no município de Socorro que, ao invés de pasto e construções irregulares, deveriam estar cobertas por mata ciliar.
Por esse e outros motivos, podemos considerar que o rio do Peixe, hoje, encontra-se em situação de alerta. Se não há florestas nas suas margens para protegê-lo, a qualidade e a quantidade de água do rio estão comprometidas.
As matas ciliares e outras matas, também as de encosta, contribuem para a infiltração da água no solo, garantindo a recarga dos aquíferos freáticos e, assim, evitam a erosão do solo e o assoreamento dos cursos d’água e nascentes.
As nascentes, por sua vez, muitas delas encontram-se desprotegidas, sem a vegetação nativa, ficando suscetíveis a qualquer tipo de contaminação. Uma forma de contaminação muito comum ocorre pela presença de animais domésticos, como o gado, no entorno da nascente. Se ele tiver acesso a essa área poderá trazer grandes prejuízos às nascentes. Além de contaminar o solo e consequentemente, a água, por seus dejetos. O pisoteio do gado no entrono da nascente compacta demais o solo, impedindo a sua infiltração. Por esse motivo, muitas nascentes estão secando, porque sem a mata nativa não há como a água manter as nascentes abastecidas e, com o tempo, inevitavelmente, elas secam.
O grande problema da água que estamos enfrentando, nos últimos anos, não é apenas a falta de chuva. Isso é uma consequência negativa da falta de florestas. E esse problema se alastra por todo território nacional. Muitos dos rios que passam por São Paulo, como exemplo os rios do Peixe e Camanducaia da nossa região, nascem no estado de Minas Gerais. O estado de Minas, segundo o Atlas dos Remanescentes Florestais da SOS Mata Atlântica, liderou o desmatamento, pelo quinto ano consecutivo, com 8,5 mil hectares destruídos.
Entre as causas desse desmatamento, confirma-se a mesma problemática comum aqui, na nossa região, e também no nosso município, representada pela especulação imobiliária em torno dos núcleos urbanos. Minas Gerais convive com a “moda” dos chamados condomínios de fim de semana, onde a população com mais recursos busca usufruir da natureza e sair das cidades áridas, que ela mesma ajudou a construir.
Portanto, o tema “água”, inevitavelmente muito falado nesses últimos tempos, tende a continuar sendo uma grande preocupação, pois os avanços às áreas rurais, a expansão urbana e a especulação imobiliária continuam, estão cada vez mais intensos na nossa cidade e, infelizmente, sem planejamento e sem ações sustentáveis.
A água é de todos e por esse motivo, uma responsabilidade também coletiva. Economizar não é suficiente, é uma obrigação, por uma simples razão de sobrevivência.
É preciso haver um programa de divulgação e conscientização da população e de recuperação da mata ciliar. Tenho certeza que o povo de Socorro saberá defender o Rio do Peixe.