O Município: trajetória centenária que acompanhou o progresso de Socorro
“Orgão Imparcial Dedicado aos Interesses Locaes”. Com esse slogan estampado em destaque na capa, a primeira edição de O Município chegava às mãos dos socorrenses em 16 de outubro de 1921. À frente do novo periódico estava Alante Lorenzetti um dos pioneiros da imprensa do interior paulista e que cultivava duas paixões: Socorro e o jornalismo.
Instalado inicialmente num modesto imóvel à rua José Bonifácio, coincidentemente no mesmo endereço que ocupa atualmente, o recém-lançado jornal trazia ainda no editorial de primeira página, uma importante reflexão sobre o papel da imprensa e sua busca incessante por assertividade e imparcialidade: “Poderemos errar. Mas si errarmos, esses erros não poderão toldar o nosso programma em sua essencia. Esses erros, si existirem, serão mais filhos da vontade de acertar do que da má fé e da perfídia”.
Alicerçado nesses princípios, O Município começou a construir sua trajetória e, sete anos após sua criação, já com a credibilidade consolidada, trocaria de mãos, sendo vendido para José Isidro de Toledo. A redação deixa o prédio original e se transfere para a Rua 13 de Maio, já então o principal corredor comercial da cidade. Três anos depois, o jornal novamente muda de proprietários sendo adquirido por Alfredo Ferragutti e Antonio Benjamin Lorenzetti, conhecido como Bejo.
O primeiro movimento de modernização do jornal ocorreu em 1946, quando o periódico foi vendido para o grupo de empresários formado por Mario de Oliveira Araújo, Felício Vita Junior, Imir Baladi, Antônio Gonçalves Dantas, José Franco Craveiro e Francisco Comito. Dessa sociedade nasceu também uma empresa com o mesmo nome que iria expandir as atividades comerciais da marca O Município, incorporando uma papelaria, livraria, tipografia, artigos para presentes e eletrodomésticos, que se tornou a maior do ramo na cidade.
Anos mais tarde a sociedade comercial foi desfeita, sendo o título mantido exclusivamente pelo jornal que lhe deu origem. Nessa época, as oficinas de O Município passaram a funcionar na residência do seu então diretor, o professor e ex-prefeito Imir Baladi, que o dirigiu por mais de 34 anos. Foi também nesse período que uma tragédia iria marcar a história do jornal. Em 1970, Socorro enfrenta a maior enchente conhecida de sua história que ocasionou a destruição de todo o arquivo do jornal, tendo sido perdidas várias décadas de documentação histórica.
No início da década de 1980, tem início a importante fase que iria marcar a modernização definitiva de O Município, justamente no momento em que o jornal vivia um momento difícil, quando estava reduzido a seis páginas e com tiragem de apenas 280 exemplares.
Com visão arrojada e empreendedora, Antônio Fontana Filho, carinhosamente conhecido como Buka, adquire os direitos do título do jornal e juntamente com sua esposa Marisa de Souza Pinto Fontana, promove uma série de ações e investimentos que revolucionaram e deram impulso à nova fase do jornal.
Da acanhada salinha da rua Etore Mantovani, em 1985, as oficinas, recepção, escritório e redação passaram para novo endereço, na esquina da Rua José Bonifácio, desta vez, já em espaço próprio. Em seguida, o jornal expandiu suas instalações para o endereço em que se encontra até hoje, no número 121 da mesma rua.
Ali se encontravam as oficinas do O Município com sistema de impressão considerado de ponta para a época, composto por uma nova Linotipo e uma impressora de médio porte que trabalhavam incessantemente imprimindo, além do jornal, toda espécie de material gráfico demandado pelos socorrenses naquela época.
Em 1990, os primeiros computadores chegaram à redação, outra grande inovação para época, trazida por Antônio Fontana Filho, que foi pessoalmente adquirilos no Paraguai. Com a chegada da informatização, O Município terceiriza seu processo de impressão e adota uma nova diagramação, mais moderna e com introdução de páginas coloridas, que agradam tanto leitores como anunciantes. Uma década mais tarde, a tiragem do jornal já alcançava a marca de quatro mil exemplares semanais.
Em 2007, com uma emblemática capa em preto e branco, O Município se veste de luto para se despedir de seu diretor Antônio Fontana Filho, que acometido por um câncer fulminante, falece precocemente aos 50 anos.
O comando do jornal passa então para as mãos da jornalista Marisa Souza Pinto Fontana, a Marisinha, filha do casal de proprietários. Sob o comando de Marisinha, profissional graduada pela PUC de Campinas, O Município se moderniza ainda mais. Em 2011, para marcar seus 90 anos de fundação, o jornal incorpora um novo projeto gráfico, que privilegia a leveza tipográfica e também implanta a tematização editorial em suas páginas.
A era digital leva o jornal a mudar mais uma vez seu perfil. Além de marcar presença nas redes sociais, o jornal criou um site de notícias e passou a disponibilizar a versão online do jornal impresso, que circula semanalmente.
E assim, pretendemos continuar ao lado de nossos leitores e de nossa comunidade, como sempre fizemos desde nossa primeira edição, há cem anos. Nosso desafio de bem informar, nossa busca por imparcialidade e nossa vontade de acertar, continuam inabaláveis.
Um século vencendo desafios e mantendo a credibilidade
Em toda sua trajetória centenária, O Município nunca deixou de circular, superando todas as adversidades econômicas ao longo das décadas. Da mesma forma, todos aqueles que estiveram à frente do jornal em suas mais variadas fases sempre procuraram manter uma divulgação imparcial de fatos e notícias, sem bandeiras ideológicas, políticas ou religiosas.
Foi O Município quem deu a notícia aos socorrenses: havia estourado a Revolução Constitucionalista de 32. Na edição de 17 de julho de 1932, a matéria de capa, “São Paulo em armas!”. “A 13 de julho, desembarcou em Socorro, pela Mogyana, um destacamento da Força Pública de São Paulo, composto por alunos do Centro de Instrução Militar, chefiado pelo Capitão da Força Pública, sr. Benedito de Castro Oliveira e outras autoridades, que pediram o prédio do Grupo Escolar “Cel. Olímpio Gonçalves dos Reis” para servir de Quartel General. Ao todo, 122 socorrenses se alistaram para defender seu Estado. Felizmente, nenhum morreu em combate.
O Município editou e publicou diversos cadernos especiais com pesquisas históricas inéditas, como “Socorro 170 anos”, “A Revolução de 32”, “A Proclamação da República em Socorro”, “Nossa Homenagem a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro”, “90 anos da EE Coronel Olímpio Gonçalves dos Reis”, entre outros.
Assim como o mundo passou por profundas transformações nos últimos cem anos, nossos profissionais, sejam jornalistas, gráficos, da área comercial e até entregadores, tiveram que se adaptar aos seguidos novos tempos.
A gráfica talvez seja o setor onde as mudanças foram mais emblemáticas: antigas e pesadas máquinas, com composição manual, pelos sistemas de impressão em chumbo, até a chegada dos primeiros computadores em 1990. Se adequou aos “tempos modernos” com a chegada da internet e hoje ainda se adapta à era digital, sem deixar perder o amor pelo papel. Resistente, é o único jornal impresso da cidade e um dos raros que se mantém ativos na região, colocando a missão de informar acima de tudo.
Numa época em que as notícias locais ainda chegavam basicamente pelo papel. O Município era distribuído nas tradicionais vendas dos mais distantes bairros da zona rural, numa forma de democratização da informação.
Em sua trajetória, o jornal também criou uma estreita relação com as escolas e estudantes da cidade. Frequentemente, a redação recebia alunos de todas as escolas, que recebiam informações sobre a história da imprensa local. Remessas de jornais também sempre foram entregues aos alunos nas escolas, sem custo, como modo de incentivar a leitura e a educação.
Esses pequenos fragmentos da trajetória centenária de O Município são motivo de justo orgulho para a atual direção do jornal e seus colaboradores. Afinal, esse valente sobrevivente foi determinante para o progresso harmonioso de nosso município e certamente ainda tem muito a contribuir para nossa gente e nossa comunidade.