No mês passado, Fernando Wesley Masero da Silva foi homenageado no Palácio dos Bandeirantes, durante a solenidade em comemoração aos 47 anos da Defesa Civil do Estado. Na presença do governador Tarcísio de Freitas, o soldado PM que atua no canil do Corpo de Bombeiros, recebeu o reconhecimento por sua atuação durante uma missão humanitária na Turquia, após um terremoto devastador ao início do ano.
Com experiência em operações especiais, Fernando e sua parceira Joy trabalharam juntamente com outros 26 militares; deste total quatro, entre eles Masero e sua parceira Joy, eram condutores de cães. Eles trabalharam na linha de frente nas operações de resgate das estruturas colapsadas e às vítimas da catástrofe. “Em São Paulo somos em oito policiais especializados neste tipo de operação. Fomos em quatro e o restante ficou para dar assistência a outras ocorrências que vierem a acontecer, infelizmente, semanas depois, aconteceu a tragédia no Litoral Norte”, conta ele, que fala também sobre a experiência na Turquia.
“Já atuei em diversas ocorrências difíceis, mas o caso da Turquia foi muito mais complexo, principalmente pela grandeza da tragédia. Todas as cidades que fomos estavam no chão, tudo demolido e destruído, parecia cena de filme”, lembra ele que ficou 16 dias no país. “Tivemos que começar do zero, parecia sem fim. Outro fator que dificultou um pouco a ação foi com relação ao idioma. Lá, poucas pessoas falam o mínimo do inglês.”, contou Masero, citando que neste caso foram cerca de 51 mil vítimas contabilizadas.
“Infelizmente só retiramos pessoas sem vida. Não é um trabalho fácil, visto que estamos lidando com a extração dos corpos no local da tragédia, mas tento abstrair ao máximo e focar no meu trabalho. Me apego ao sentimento de devolver a pessoa à sua família”, completou.
“Eu sempre quis ser bombeiro, mas quando iniciei a carreira me apeguei ao sonho de ser um profissional diferente”
Nascido em São Paulo, Fernando tem familiares em Socorro, onde viveu grande parte da sua vida. Ele destaca a Corporação de Guias Mirins como um fator determinante em sua formação pessoal e profissional. “Sem dúvida, todo o conhecimento e experiência que adquiri durante a minha passagem na guardinha fizeram a diferença na pessoa e profissional que me tornei”, destacou.
Assim que surgiu a oportunidade, o jovem prestou o concurso para ingressar na carreira militar. “Pude contar com a ajuda de grandes incentivadores. Eu sempre quis ser um bombeiro, mas quando ingressei na carreira me apeguei no sonho de ser um profissional diferente. Confesso que na época nem sabia o que isso significava, mas hoje eu entendo perfeitamente e cheguei exatamente aonde queria estar”, enfatizou Fernando.
No início da carreira trabalhou na prontidão, atuando em resgates, incêndio e ocorrências do dia a dia. Ele conta que no ano de 2017 foi convidado para fazer parte do Canil do Corpo de Bombeiros que fica no Ipiranga, em São Paulo. “E, desde então, estou lá, trabalhando somente com os cães para atender três esferas: estruturas colapsadas, soterramentos e localização de
pessoas perdidas em mata”, explica o bombeiro.
Além de Fernando, outros sete bombeiros no estado atuam neste tipo de ocorrência, atendendo em SP, e também a outras cidades e países, como foi o caso da Turquia. Entre as que já passou, o bombeiro lembra Brumadinho, onde ficou 21 dias no trabalho de buscas às vítimas e um deslizamento no Guarujá, em 2020.
“Além de toda a complexidade e grandeza da tragédia, Brumadinho marcou também por toda a superação e aprendizado. A locomoção era muito difícil e precisávamos andar com o mínimo de bagagem possível, inclusive comida. Íamos ao local das buscas pela manhã, transportados por uma aeronave, e ficávamos no local até o final da tarde”, relata ele.
“No Guarujá em 2020, foi a primeira vez que atuei como condutor de cães, ao lado da minha parceira, Joy, com quem estou desde então”; conta ele, que foi o responsável por todo o treinamento desde quando adotou a cachorra, com apenas 11 meses.
Fernando conta que o trabalho com os cães demanda muito treinamento e estudo. “Eles são uma ferramenta essencial nas
buscas, pois fazem as marcações e de certa forma coordenam as operações. Através de seu comportamento são feitas as ordens para os demais da equipe. É muita responsabilidade”, afirma ele que, em sua rotina diária inclui muito estudo sobre o comportamento canino, além de dados específicos de estruturas colapsadas, treinamentos diários e simulação de ocorrências.
“Ser bombeiro não é uma matéria que se aprende somente na teoria. Cada um de nós cria mecanismos para trabalhar melhor e também para lidar com as ocorrências pelas quais passamos. Hoje, me sinto realizado por ser um bombeiro diferente e fazer a diferença no meu trabalho”, conclui ele.