Nas últimas semanas, os cigarros eletrônicos foram assunto nas mídias sociais, após a assessoria de imprensa do cantor sertanejo Zé Neto, dupla de Cristiano, desenvolveu um problema chamado “foco de vidro no pulmão” e apresenta falta de ar ao cantar. Esses sintomas podem estar relacionados a resquícios da Covid-19 e ao uso prolongado de cigarro eletrônico.
“Este é um termo técnico usado para descrever um tipo de mancha pulmonar visto na tomografia. Pode acontecer não só em decorrência do uso dos cigarros eletrônicos, como também em diversas outras doenças respiratórias. Não é realmente vidro no pulmão, só um termo descritivo”, esclareceu o médico pneumologista, dr. Márcio Lauretti.
O uso do dispositivo vem sendo cada vez mais frequente, principalmente entre os jovens. Em suas redes sociais, Zé Neto alertou seus seguidores sobre o consumo dos chamados “vape”. “(…) Realmente passei por um problema sério do pulmão devido a cigarro, esses Vapes (cigarro eletrônico). Inclusive, dou um alerta para quem mexe com essa porcaria… para com isso porque é um cigarro como qualquer outro e faz mal do mesmo jeito ou até mais”, desabafou ele.
De acordo com a Anvisa, a comercialização, importação e propaganda de todos os tipos de dispositivos eletrônicos para fumar são proibidas no Brasil, por meio da Resolução de Diretoria Colegiada da Anvisa: RDC nº 46, de 28 de agosto de 2009. Essa decisão se baseou no princípio da precaução, devido à inexistência de dados científicos que comprovassem as alegações atribuídas a esses produtos.
O dr. Márcio Lauretti concedeu uma entrevista ao Jornal O Município para falar sobre o uso dos cigarros eletrônicos e fez o alerta: tudo não passa de uma propaganda enganosa.
Quais os efeitos do uso de cigarro eletrônico no organismo? Em quanto tempo eles podem se agravar, se for de uso contínuo? Algum efeito grave a longo prazo?
Grandes entidades de saúde, como a OMS, o INCA e o CDC norte-americano, após revisar as evidências científicas disponíveis, concluíram que: os cigarros eletrônicos causam dependência química e aumentam a chance de usar cigarros tradicionais; contém muitas substâncias que agridem o aparelho respiratório e são causadoras comprovadas de câncer; aumentam a pressão arterial e dão taquicardia, elevando a chance de infarto e o risco de desenvolver asma. Além do mais, pode provocar inflamação pulmonar grave, chamada EVALI, e que matou 68 jovens norte-americanos durante o verão de 2019.
O cigarro eletrônico é menos agressivo que o cigarro comum?
Os eletrônicos realmente liberam menos substâncias que o tradicional, mas a armadilha é que algumas das principais substâncias, como a nicotina e as causadoras de câncer, são liberadas em quantidades até maiores que o cigarro de papel. O uso de um refil ou pod de Juul, marca líder, equivale a 200 tragadas de cigarro tradicional, ou aproximadamente um maço.
Conclui-se que os eletrônicos só são menos agressivos na propaganda enganosa.
Quais os riscos para pessoas que tiveram COVID ou sofrem algum tipo de doença respiratória?
Quem já teve COVID, frequentemente com sequelas, ou já sofre de doença respiratória crônica tem maiores riscos de adoecimento e de morte com o uso do eletrônico.
Existe algum outro fator de risco que possa se agravar com o uso contínuo da vape?
Já está comprovado o maior risco de asma, por exemplo, e de piora da asma, com o uso dos dispositivos eletrônicos de fumar.
Quando o uso de cigarros e cigarros eletrônicos é suspenso, qual o processo de recuperação do organismo?
Assim como nos cigarros de papel, quando se suspende o uso do eletrônico nota-se, em maior ou menor grau, uma síndrome de abstinência; isso significa um conjunto de sintomas provocados pela falta da nicotina no cérebro, que é liberada em grandes quantidades e rapidamente absorvida pelo sangue através dos pulmões. O tratamento é semelhante à abstinência tradicional, com aconselhamento permanente e remédios.
Algo mais?
Peço às pessoas que não caiam no “canto da sereia” desses produtos; eles são menos agressivos que os de papel (que são extremamente agressivos ao organismo) MAS NÃO SÃO MAIS SEGUROS! Há até mais nicotina e substâncias comprovadamente cancerígenas que os produtos tradicionais; já temos diversos casos de adoecimento e de morte provocados pelos eletrônicos.
Os eletrônicos não ajudam a parar de fumar, pelo contrário; você fica dependente dele E do cigarro de papel. Não se iludam, e lembrem-se de que enquanto as pessoas estão ficando doentes e morrendo, os fabricantes estão morrendo de rir, cada vez mais ricos. Obrigado e cuidem-se.