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O Julho Verde é uma iniciativa da Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço, com o intuito de conscientizar sobre os
perigos do câncer nessa região do corpo e divulgar informação sobre prevenção, diagnóstico precoce e maior chance de cura.
Estima-se que o Brasil registre 36 mil novos casos desses cânceres apenas neste ano. Dr. André Bandiera Oliveira Santos conta que houve grande impacto há mais de duas décadas com o Outubro Rosa, para o câncer de mama e já há alguns anos a divulgação do Julho Verde procura surfar essa onda, assim como o Novembro Azul para o câncer de próstata, o Dezembro
Laranja para o câncer de pele e muitos outros…

Em entrevista ao O Município, o médico colabora para a divulgação de importantes informações sobre o tema. Dr André é
cirurgião de cabeça e pescoço, especialista em câncer de pele, doutor pela FMUSP e professor na Med Uninove. Confira:

Quais são os tipos mais comuns de câncer de cabeça e pescoço?
Na região os tumores de pele são os mais frequentes, tratados pelos cirurgiões de cabeça e pescoço e outras especialidades, como dermatologia e cirurgia plástica. Quando se fala câncer de cabeça e pescoço é importante mencionar os tumores de boca, de garganta, de laringe, glândulas salivares e tireoide.

Quais são os sintomas? Como é o tratamento?
Cada um deles com suas particularidades, diferentes sintomas e estratégias de tratamento.

Câncer de pele: Podemos dividir os tumores de pele em melanomas e cânceres de pele não melanoma. O melanoma é perigoso e a maneira mais eficaz de identificá-lo é observar as pintas do corpo. As pintas que crescem ou mudam de cor devem ser examinadas por um médico. Quando suspeitas essas pintas devem ser retiradas e quando malignas uma nova cirurgia é necessária, retirando pele normal em torno da cicatriz. Dependendo de características observadas na biópsia da primeira lesão pode ser necessária a retirada de um linfonodo, chamado de linfonodo sentinela, para melhor avaliar a extensão da doença e planejar o tratamento complementar. Já as lesões não melanoma aparecem como feridas que não cicatrizam, que podem formar uma casquinha que cai e logo volta, ou mesmo aparecer como um nódulo endurecido, róseo. Os tipos mais comuns de câncer de pele não melanoma são o carcinoma basocelular e o carcinoma espinocelular. A retirada cirúrgica com margens livres é o principal tratamento e garantir que a lesão foi completamente retirada é a maneira mais eficiente de se obter a cura. Isso
é realizado com um exame durante a cirurgia conhecido como exame de congelação, que atualmente é disponível na clínica
e com anestesia local.

Tumores de boca aparecem como feridas que não cicatrizam, parecendo aftas que não curam ou mesmo nódulos na língua ou na mucosa. Quando mais avançadas podem sangrar e desenvolver nódulos duros no pescoço. O tratamento é com cirurgia, em hospital, com anestesia geral e na maior parte dos casos a retirada de linfonodos do pescoço, é necessária. Como é um tumor agressivo, a radioterapia após a cirurgia pode ser necessária. Daí a importância da educação e divulgação dessas informações, para que os diagnósticos sejam cada vez mais precoces.

Tumores de garganta: chamamos tecnicamente a garganta de orofaringe e lesões malignas nessa região podem crescer sem
sintomas ou a pessoa notar uma sensação de espinha de peixe ao engolir, às vezes uma alteração no hálito ou um pouco de sangramento. O tratamento pode ser com cirurgia, semelhante às lesões de boca, ou com radioterapia e quimioterapia, dependendo de dados como localização da lesão e opção pessoal do paciente.

Tumores de laringe: para o câncer de laringe a alteração da voz com rouquidão é o sintoma mais frequente, podendo ou não estar associado a um nódulo endurecido no pescoço. Assim como no câncer de garganta, há tratamento com cirurgia, radioterapia, quimioterapia e combinação dos métodos. É no câncer de laringe que muitas vezes é necessária a traqueostomia como parte do tratamento.

Tumores de glândulas salivares: as estruturas do nosso corpo que produzem saliva são glândulas na proximidade na boca – elas ficam na frente da orelha (parótidas), embaixo da língua (sublinguais) e na parte alta do pescoço (submandibulares). Tumores nessas glândulas aparecem como nódulos duros e algumas vezes podem causar paralisia facial, fazendo o rosto ficar assimétrico, com o sorriso só de um lado. Em geral a cirurgia é indicada e é a principal parte do tratamento, podendo ser associada ou não a radioterapia.

Tumores de tireoide: na maioria das vezes não causam sintomas, podendo a pessoa notar um nódulo na parte mais baixa do
pescoço. Às vezes pode causar rouquidão. O tratamento basicamente consiste na cirurgia de retirada da glândula, situação na
qual é necessária a reposição dos hormônios. Em alguns casos é necessário um tratamento complementar com iodo radioativo,
chamado de radioiodoterapia.

Faixa etária mais atingida? Existe pré-disposição ou hábitos que possam desencadear numa futura doença?
Os cânceres de pele não melanoma, de boca, garganta, glândulas salivares e laringe costumam ocorrer depois dos 50 anos. O
melanoma e os tumores de tireoide são comuns até mais cedo, podendo ocorrer tanto depois dos 50 quanto aos 30–40 anos.

Sobre os fatores predisponentes: -para o câncer de pele e de lábio o sol é o fator mais importante. Ter uma relação saudável com o sol é importante para essa prevenção. Uso de protetor solar e roupas adequadas, como camiseta e chapéu são atitudes que devem ser adotadas por todos, mas em especial para as crianças e adolescentes. É nessa faixa etária que há o maior dano da pele, com consequências que só se vê décadas depois.

– para o câncer de boca, garganta e laringe os fatores de risco são muito bem definidos: tabagismo e etilismo. Quem fuma tem 10 vezes mais chance de desenvolver, quem bebe regularmente tem 20% mais chance de desenvolver. Mas quem associa os dois fatores, ou seja, quem fuma e bebe tem 35 vezes mais chance, ou seja 3500% a mais de desenvolver um tumor de língua do que a população não fumante e não etilista. O cigarro eletrônico e o uso de maconha também são fatores de risco para essas lesões. Especificamente para o câncer de garganta (orofaringe) sabe-se que o HPV, transmitido sexualmente é fator de risco importante em parte dos casos. Se as estratégias de prevenção e isolamento dos fatores de risco são claros em relação aos tumores de pele, boca, garganta e laringe, isso não é tão simples em relação às lesões de glândulas salivares e tireoide. Não há fator claro conhecido que deva ser evitado para o desenvolvimento dessas lesões.

E sobre prevenção?
Recomenda-se portanto não fumar, parar de fumar e não beber/ parar de beber se isso for um hábito ou vício, ter vida sexual responsável e com proteção, assim como ter uma exposição solar saudável, com roupas e com protetor solar por toda a vida, mas em especial na infância e adolescência. Essas estratégias são para que as lesões não se desenvolvam. Para a detecção precoce, ou seja, descobrir lesões perigosas logo no início, nenhum exame é recomendado rotineiramente.

Mas é importante ficar atento para o aparecimento de alguns sintomas: feridas na pele que não cicatrizam, nódulos rosados
e pintas que crescem ou mudam de cor devem ser avaliados por médico assim que notados; feridas na boca que não cicatrizam, lesões esbranquiçadas, sensação de espinha de peixe ao engolir e rouquidão que não melhora em 15 dias deve levar a pessoa a procurar médico; finalmente, nódulos no pescoço, especialmente se forem endurecidos e não doerem devem ser examinados para descartar que isso seja um câncer de cabeça e pescoço ou tratar desse câncer logo que ele apareça.

Algo mais?
Só agradecer e me colocar à disposição para qualquer dúvida no Instagram @drandrebandiera.