A automedicação é considerada uma mania nacional. Segundo pesquisa do Datafolha, realizada em maio de 2022, o hábito está presente em cerca de 90% da população adulta. Um vício perigoso, que pode acarretar em complicações, como a nefropatia por analgésicos e anti-inflamatórios, que causa o comprometimento dos dois rins e pode chegar a dialise. Esse é o tema da semana com a nefrologista dra. Gloria Maria Furtado dos Reis. Confira:
O que é nefropatia por analgésicos e anti-inflamatórios?
Primeiro, vamos lembrar de que os analgésicos e anti-inflamatórios podem ser comprados sem receita médica, sendo os dez
medicamentos mais vendidos no Brasil. A Nefropatia por analgésicos é uma forma de nefrite crô nica que compromete ambos os rins e é causada pelo uso crônico de medicamentos analgésicos e anti-inflamatórios de forma indiscriminada, sem prescrição
médica.
A lesão renal se faz de maneira insidiosa e silenciosa, de forma que sua descoberta pode se fazer tardiamente, quando já existe
perda da função dos rins. Estima-se que a lesão renal já esteja presente em pessoas que tomam analgésicos e/ou anti-inflamatórios diariamente durante pelo menos cinco anos de suas vidas.
Nos casos mais extremos podemos ter pacientes que apresentam quadro de Insuficiência Renal Aguda, muitas vezes necessitando de tratamento de hemodiálise de urgência.
Qual é a causa da doença renal?
O uso crônico dos analgésicos e anti-inflamatórios pode levar a distúrbios hidroeletrolíticos, como, por exemplo, distúrbios
do potássio no organismo, além da lesão renal exercida sobre os túbulos renais, que são áreas nobres dos rins, onde se faz o controle da filtração e troca destes elementos. Os anti-inflamatórios também inibem a atividade das enzimas COX-1 e COX-2, de relevada importância no bom funcionamento dos rins. É muito comum pacientes desenvolverem Insuficiência Renal
Crônica sem causa conhecida ou determinada, sendo então detectado durante a avaliação médica, o uso crônico de analgésicos e antiinflamatórios ao longo de anos, para controle de dores diversas.
A lesão renal, aguda ou crônica, pode ocorrer com qualquer classe de anti-inflamatórios, citando aqui como exemplo os Diclofenacos, Cetoprofeno, Ibuprofeno, Nimesulida, Meloxican, Piroxican, Indometacina e outros, muito comumente encontrados nas mais diversas formulações de relaxantes musculares vendidos sem receita médica.
Quais os sintomas?
Como citado anteriormente, a doença renal crônica pode evoluir sem sintomas ao longo de anos. Podemos ter formas de
apresentação leves, como por exemplo o surgimento de edema localizado, principalmente pernas, pés e tornozelos, muitas vezes transitório e atribuído a outras causas. Nos casos mais avançados, observaremos queixa de fadiga, diminuição de apetite,
emagrecimento, eventualmente náuseas, câimbras a até presença de espuma na urina, o que significa perda de proteínas e, consequentemente, lesão renal mais avançada.
O que fazer depois do diagnóstico?
A avaliação da função renal periódica é essencial na prevenção da insuficiência renal crônica, sobretudo quando o paciente tem
diagnóstico de qualquer doença crônica como Diabetes, Hipertensão Arterial, Artrite reumatóide, Gota (distúrbios do metabolismo do ácido úrico), doenças do coração, e diversas outras situações de cronicidade.
O uso indiscriminado de analgésicos e anti-inflamatórios para controle das mais diversas formas de dor, aguda ou crônica,
pode tanto precipitar quanto acelerar a perda de função dos rins.
Uma vez diante do diagnóstico de doença renal crônica, a orientação do médico é fundamental para o controle da progressão
da doença. A insuficiência renal crônica não tratada poderá levar à desagradável surpresa diante da indicação de tratamento dialítico.
Serviço – Dra. Gloria é formada em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro CRM-SP 103.867, fez residência médica e pós-graduação em Nefrologia – Registro de Qualificação de Especialidade número 41.695. Atendimento em Socorro na Interclínicas II – Rua José Peretto, 231 – Telefone: (19) 99955-4400.