O Talfest – Festival de Teatro de Águas de Lindoia chegou a sua 4ª edição tornando-se uma tradição que atrai Companhias Teatrais de fora do Circuito das Águas e permite aos moradores locais que curtem teatro bons momentos com peças variadas. Este ano, em sua edição de Cenas Curtas online, reuniu, nos dois últimos finais de semana, 14 cenas, selecionadas de companhias de oito cidades de São Paulo e do Amazonas.

Sábado 24 foi a estreia da peça infantil “Vila da Imaginação” com roteiro e direção de Giuliana Macedo, produzida pela Cia Ciranda Mágica representando Socorro. O cenário alegre e colorido, projetado pela artista plástica Camila Ferrers, pensado para o público infantil, é tomado pelas personagens que convidam aos adultos a uma viagem no tempo, resgatando canções e brincadeiras que fazem parte do patrimônio cultural de qualquer um que tenha vivido antes dos anos 90. E meio que inconscientemente a gente se percebe a cantar lá na nossa mente onde a imaginação se faz. Talvez esse tenha sido o motivo pelo qual no domingo 25 Camila e Giuliana tenham sido surpreendidas com dois “Selos da Fama” – prêmios concedidos no Festival – um para melhor cenário (Camila) e outro para o roteiro autoral (Giuliana).

“Ficamos super felizes com o resultado do Talfest. Já ganhamos vários prêmios, em 2019, por exemplo, com Aladin ficamos com o de melhor peça infantil e melhor direção, mas esse de melhor texto autoral me emocionou muito porque eu já vinha há muito tempo querendo escrever essa peça”, conta a dramaturga Giuliana Macedo. “E o fantástico cenário… Em 2015 a Camila me disse: Giu, vamos montar um cenário mais barato e transportável porque é complicado montar um cenário que demande um caminhão para ser levado ao palco. Foi quando começamos a trabalhar o recorte de TNT em cortina com coisas dobráveis e leves que conseguimos levar no porta malas do carro”, explica. “Mas como fazer uma coisa simples e com beleza muito grande?”, era o desafio vencido por Camila Ferrers e pela Cia Teatral. “Camila é uma artista plástica, ela projeta o cenário no papel e executa até o fim.”, completa a diretora, elogiando sua parceira de palco.

Realmente, quem acompanha o trabalho da Ciranda Mágica se encanta com as imensas cortinas que ao logo dos anos têm trazido cor e magia aos escuros palcos de nossos espaços teatrais. Sobre o cenário premiado conversamos com Camila que nos conta como a equipe deu vida a esse e outros projetos. Confira:

“Tínhamos a intenção de que o cenário de Vila da Imaginação precisava ser lúdico, muito colorido e dinâmico. A Giuliana queria dar a ideia de interação com a natureza e o bem estar que esse ambiente traz para as crianças, então logo fui pensando em um local cheio de árvores e flores coloridas. Normalmente faço um esboço do cenário no papel e mostro para a Giuliana aprovar. Nessa fase definimos as cores que serão usadas e as medidas dos tecidos para comprarmos. Depois entra o processo de transformar o desenho em algo mais palpável. Em casa, faço o molde nos TNTs de cada forma e em seguida recorto. Com a cortina, normalmente de fundo preto, no chão, monto cada pecinha de tecido em seu lugar. Nós sempre montamos o cenário em grupo; pois embora pareça simples, é um processo trabalhoso e que requer muita atenção. Usamos uma fita dupla face super colante para grudar os recortes. Fazer cenário dessa forma é super bacana por dar um aspecto de “livro ilustrado” infantil, além de proporcionar profundidade à cena. Os objetos que interagimos se tornam parte de um todo e parece que os personagens pertencem a um mundo mais encantado e sugestivo. “

A artista ainda destaca que o interessante “é ser um cenário leve de se transportar, orgânico e que pode ser reutilizado diversas vezes, não causando tanto impacto ambiental. Podemos sempre reutilizar os TNTs e manter as mesmas cortinas de fundo. Já usamos o mesmo fundo de cortina para fazer vários cenários. A cortina amarela de Aladim (2019), foi o cerrado na peça Chapeuzinho Vermelho e o Lobo Guará (2015). Quando precisamos fazer um novo cenário é só remover os recortes e usar a mesma “tela”. Os recortes podem ser guardados ou não. Dependendo do que for fazer, é possível até usar o TNT anterior.”, finaliza.

O socorrense que acompanha as atividades culturais de nossa cidade sabe que os prêmios são resultado de um trabalho de equipe realizado desde 2010 pela Cia Teatral Ciranda Mágica, cujos membros têm estudado e se aprimorado a cada ano. O roteiro de Giuliana poderá futuramente ser encenando por outros artistas, de qualquer canto do mundo, porque tem o de essencial que um texto literário precisa para permanecer: um acurado trabalho com a linguagem retratando algo que diz respeito ao “humano”, a nossa essência enquanto espécie. De igual modo, a tecnologia permitirá que o mesmo aconteça com o cenário de Ferrers que servirá de inspiração para outros grupos teatrais e até mesmo para espaços pedagógicos. Vale conferir a cena no canal do Youtube do Festival e depois prestigiar a peça em sua integra nos palcos socorrenses.

A Cia Teatral Ciranda Mágica conta com o apoio da Secretaria de Cultura e do Conselho de Políticas Culturais (COMUPC) no qual Giuliana e Camila representam o núcleo de Teatro.