Muito além que gostar de criança: o pediatra é o profissional que atua antes mesmo do nascimento e segue até a adolescência. É cuidar, orientar e informar para que um bebê saudável possa ser também um adulto saudável. Nesta semana, entrevistamos a médica socorrense Brenda Mazolini, de 28 anos, especialista em neurologia infantil. Confira:
Primeiro, por que escolheu ser pediatra?
Entrei na faculdade de Medicina e sempre tive vontade de fazer pediatria. São seis anos e quando cheguei no último ano, passei no estágio da pediatria, eu tive a certeza. Nunca pensei em seguir outra área. E a escolha não foi só porque gosto de criança, mas a Pediatria é o momento único da vida que nós conseguimos realmente atuar de forma preventiva, desde o acompanhamento na consulta pré-natal pediátrica, quando o nosso paciente ainda está dentro do útero, até a adolescência.
O que mais me encanta na profissão é a possibilidade de trabalhar com a família toda. Muitas pessoas falam: “Eu não gostaria
de ser pediatra, porque tenho que trabalhar com a família, e tem pai e mãe que são complicados”. Eu acho fantástica a oportunidade de você conseguir conversar com a família toda e mudar algumas ideias, alguns conceitos e coisas que vão impactar no futuro daquela criança. Outra coisa que eu gosto na Pediatria é que as crianças são totalmente transparentes,
nós sabemos quando elas estão bem, quando não estão; isso faz muita diferença no nosso trabalho, as crianças não conseguem fingir quando estão com alguma dor ou com alguma coisa diferente. Ou elas têm ou não têm.
Na pediatria é preciso ter escuta, temos que estar abertos para escutar a família, quais são os anseios. Precisamos escutar o que a família traz e propor opções que se encaixem na rotina e na possibilidade de vivência dela.
Explique sobre a sua área de especialização: neurodesenvolvimento infantil.
Desde o término da residência em Pediatria, iniciei atendimentos em consultório em Bragança Paulista, com consultas periódicas de puericultura. Diante da alta demanda de pacientes com atrasos do desenvolvimento, especialmente com suspeita diagnóstica de autismo, senti a necessidade de me aprofundar no assunto.
Foi quando decidi fazer a pósgraduação em Neuropediatria em São Paulo. Desde então, além do acompanhamento de rotina da
criança desde a primeira semana de vida, com visão ampla sobre o desenvolvimento infantil, meu foco de atuação também tem sido o diagnóstico precoce e acompanhamento de crianças com transtorno do neurodesenvolvimento, em especial o Transtorno do Espectro do Autismo.
O que mais atende no dia a dia?
Atualmente, além das consultas de puericultura, a principal demanda do meu consultório tem sido o Autismo, desde a família que me procura por algum atraso do desenvolvimento notado na criança, por suspeita de um possível transtorno, até aqueles que já tem o diagnóstico de Autismo e necessitam de um acompanhamento com olhar mais integral sobre a criança autista.
Nesse sentido, as principais queixas que chegam à consulta são aquelas relacionadas a atraso de fala, comportamento atípico, distúrbios de sono, seletividade alimentar, dificuldade de aprendizagem.
Até que idade a criança precisa de um pediatria?
O Ministério da Saúde adota o critério da Organização Mundial da Saúde, segundo o qual a infância é o período entre zero até dez anos completos de idade; e a adolescência compreende o período entre dez e dezenove anos de idade. De modo geral, a Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda que os pais levem o seu filho ao pediatra até os dezoito anos (sim, até a sua
fase jovem mesmo!).
Na prática do consultório, esse rompimento com o pediatra acaba acontecendo geralmente antes, quando o próprio adolescente passa a se sentir inibido e procura um médico para adultos. Quando o adolescente tiver o crescimento consolidado e a autonomia para cuidar da saúde, pode realizar a transição do pediatra para um clínico geral, sem problemas. Não há uma idade
padrão para essa mudança.
De quanto em quanto tempo precisa de consulta?
Isso depende. Para bebês que estão no primeiro mês de vida, podem ser recomendadas de duas a três consultas ao longo do mês. Até os seis meses, devem ocorrer uma vez por mês; e, após esse período, uma consulta a cada dois meses é suficiente, até que o pequeno complete dois anos de idade. A partir dos vinte e quatro meses de vida, as consultas podem acontecer trimestralmente, até os seis anos. Depois, é possível que elas sejam semestrais ou até anuais, a depender de cada paciente.
O que muda no atendimento conforme cada fase da vida da criança?
A consulta médica pediátrica tem a peculiaridade de se constituir, no mínimo, numa tríade pediatra-criança-mãe (ou família). A consulta pediátrica não é só medir e pesar a criança, como muitos ainda pensam. Cabe ao pediatra atuar na prevenção, isto é, agir mais para evitar, afastar ou controlar os fatores de risco do que propriamente nas doenças. A meta é fazer o diagnóstico e listar os problemas detectados em relação à alimentação, estado nutricional (desnutrição, anemia, obesidade), funcionamento intestinal, sono, imunização/vacinas, crescimento, desenvolvimento neuropsicomotor, pubertário e comportamento. Tudo isso é feito considerando a idade da criança.
Algo mais?
A Pediatria tem por missão a promoção da saúde da criança em toda sua plenitude. Cabe ao pediatra ajudar a criança (e sua família) em todas as fases de seu desenvolvimento de modo que ao atingir a fase adulta ela esteja apta a exercer plenamente seu potencial. Isto significa ajudar a criar uma criança saudável, considerando-se saúde no seu sentido abrangente de bem estar físico, psíquico e social, o que implica não só em estar livre de doença, mas também estar emocionalmente equilibrado e
socialmente integrado na família e na comunidade.
Meu recado para as mamães, papais e responsáveis é: tenha um pediatra para chamar de seu! Aquele com o qual você pode contar para tirar suas dúvidas sempre que precisar. Não se lembre do pediatra apenas quando seu filho fica doente – o acompanhamento periódico é a melhor maneira de prevenção.
E lembrem-se: a maneira como seu filho brinca, aprende, fala, age e se movimenta oferece indicações importantes sobre o seu desenvolvimento. Os marcos do desenvolvimento são as coisas que a maioria das crianças consegue fazer em uma determinada idade. Verifique sempre os marcos que seu filho alcança em cada fase da vida, passe essas informações ao seu pediatra em todas as consultas e converse com ele sobre os marcos alcançados por seu filho e o que esperar no futuro.
Atendimento em Socorro
Desde julho deste ano, além do consultório em Bragança Paulista, na Clínica Meraki, a doutora Brenda Mazolini atende também
na Clínica Dhomus, em Socorro. A clínica está localizada na R. Luís Piza, 241. Para mais informações: (19) 99955-4400.
*Brenda Mazolini é formada em Medicina pela Universidade São Francisco em Bragança Paulista (2013-2018), possui residência
médica em Pediatria pelo Hospital Universitário São Francisco (2019-2022), pós-graduada em Neurologia Infantil (2022-2023) e atualmente é mentorada em Certificações de Autismo e Transtornos do Neurodesenvolvimento