Numa relação estável, que começou com a intenção de que fosse o mais duradoura possível, ambos caminham na direção de solidificar o casal. Mas e quando isso não acontece? A separação pode ser um momento difícil de superar, principalmente se há episódios de que despertem sentimentos ruins.
Para a psicóloga Tatiana Niero Miranda Felizardo, uma maneira que pode ajudar a lidar com esse momento é se permitir expressar o que sente e reconstruir a vida depois do término. Confira entrevista:
Como saber se chegou a hora de se separar?
Vários fatores devem ser considerados para se chegar a essa resposta. Um deles é se perguntar se itens como respeito, atenção, cumplicidade, confiança, autonomia, carinho estão presentes na relação e de que maneira estão distribuídos. Numa relação saudável, há um equilíbrio na distribuição desses itens e tanto os direitos quanto os deveres de cada um dos parceiros é bem esclarecido e também equilibrado.
Quando o desequilíbrio é uma constante, a relação tende a ficar desgastada e aumenta a possibilidade de chegar ao fim.
Outra pergunta a ser feita é: as expectativas a respeito dessa relação estão claras para mim? E para meu parceiro? Meu parceiro valida tais expectativas e parece tentar atendê-las em alguma medida? Somos sensíveis as necessidades do outro?
Essas são algumas questões que podem ajudar a avaliar o contexto da relação.
Essas variáveis citadas acima estão ligadas à própria relação, mas também podemos considerar que algumas relações amorosas terminam por influências externas, por exemplo mudança de emprego que pode acarretar num distanciamento físico ou numa mudança na condição financeira; desenvolver interesse por outra pessoa; diferenças de valores morais, religiosos ou políticos, pressão de amigos ou família.
Enfim, são inúmeros fatores que podem trazer um sinal de alerta. E se não houver um cuidado mútuo para manter essa relação em harmonia, é provável que a separação aconteça.
E como se preparar psicologicamente para essa separação?
Quando a relação amorosa termina, as pessoas se veem muitas vezes tendo que reestruturar boa parte de suas vidas. É uma alteração significativa que pode implicar em perdas e sofrimento. Uma maneira que pode ajudar a lidar com esse momento é se permitir expressar o que sente, acolher essas emoções e a partir de então, se permitir reconstruir a vida depois do término. Buscar novas amizades, companhias, compromissos.
Não se fixar na ideia de que o desconhecido (após o término) é necessariamente ruim. Ajuda muito encarar essa nova fase com
o foco nas boas oportunidades.
Quanto tempo dura esse processo de “luto de separação”?
Perde-se não só um parceiro, mas companhias, amizades, compromissos, endereço… e como em todo processo de perda, de
luto, há sofrimento. É importante considerar esse sentimento para poder encontrar formas de lidar com ele.
Cada indivíduo lida de uma maneira, responde com uma velocidade, não há um “tempo certo” ou “ideal”. Mas é fato que dependendo do tempo que a relação durou e da intensidade, é maior ou menor o tempo para conseguir responder a novas situações. Então no começo quase tudo parece vazio em comparação ao relacionamento antigo. Nessa fase, tudo que não for a atenção da pessoa amada parece que não tem valor.
Para uma melhora nesse cenário, é fundamental investir em atividades paralelas, isto é, ter espaço para fazer suas próprias coisas, em companhia de outras pessoas (trabalhar, ter um hobbie, ter tempo exclusivo com os amigos, etc). É encontrar vida após esse relacionamento.
Fica mais difícil superar quando há traição?
Algumas pessoas tendem a reagir mais à alguns motivos e outras, a outros. Acredito que não é possível organizar numa escala de motivos, qual deles seria o pior, pois cada indivíduo tem na sua história episódios de maior dificuldade e traumas. Para alguém que apresenta dificuldade em confiar, por exemplo, ser traído acentua essa dificuldade. Já para outro, pode ser mais difícil superar uma dificuldade financeira. Contudo, situações que nos despertem sentimentos de humilhação, desprezo, desrespeito são, em geral, difíceis de superar.
Como lidar com a separação de forma saudável, para que os filhos não sofram?
Como foi dito, na situação de separação, perda, há sofrimento envolvido. Considerar esse sentimento pode trazer mais benefícios do que tentar a todo custo evitá-lo.
Acolher, conversar e trabalhar com as emoções dos filhos é essencial para ajudá-los a encarar o novo formato de família e rotina que está por vir. A intenção não necessariamente é buscar aprovação ou aceitação sobre a decisão da separação. Isso cabe ao casal. Mas os filhos são parte integrante da família que passará a ter novo formato e, por isso, devem ser considerados e acolhidos em suas emoções. Caberá a todos construir uma nova vida após a separação e fazer isso com respeito, cuidado e segurança colabora para que as emoções se acomodem de maneira mais saudável para todos.
E quando há conflitos como disputa de bens ou da guarda dos filhos?
Existem situações em que a separação causa muitos transtornos e complicações tanto para o casal quanto para a família em geral. Nesses casos, é aconselhável, quando possível, que exista um acompanhamento profissional (advogado, psicólogo) dedicado a resolver situações onde um acordo amigável já não é mais possível. Algumas dificuldades podem chegar a um ponto crítico e o casal, sozinho, não é capaz de resolver. Para que as consequências não sejam mais danosas para todos, intervir com uma ajuda de alguém qualificado para abraçar a situação, pode trazer resultados bem favoráveis.
Algo mais?
Falamos sobre como reconhecer e lidar com a hora do fim, como identificar se o relacionamento não está saudável. Mas tão importante quanto isso é também reconhecer o que é saudável em uma relação. Não se deve cair no erro de acreditar que só está tudo bem se há ausência total de conflitos. Até porque há o conflito que é saudável. É esse que promove mudança positiva, entendimento, aprofundamento da intimidade e ganho na qualidade de vida após o conflito. E por conta dessa mudança e entendimento, ele não se repete. A questão foi resolvida. A relação que funciona, necessita de tempo, vontade de ficar junto, tolerância e coragem para encarar os conflitos que geram mudança.
Serviço – Em Socorro, a psicóloga Tatiana atende na Clínica Center. Mais informações e contatos pelos: (19) 3895-1020 ou
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