O bispo diocesano de Bragança Paulista, Dom Sergio Aparecido Colombo presidiu, no último domingo, dia 27 de junho, a celebração de dedicação do altar da Igreja Matriz da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.
Concelebraram o Pároco Pe. Francisco Gilson de Souza Lima e o Vigário Paroquial Pe. Marcio Canteli Silva da paróquia, contando com a presença de outros padres do clero.

Na celebração, o bispo ungiu o altar da igreja com o Óleo do Santo Crisma, que ele mesmo consagrou ainda no ano de 2020 e também as 12 cruzes afixadas nas paredes da igreja e fez a incensação do altar para celebrar a Santa Missa bem como toda a igreja e os fiéis presentes.

Mesmo com capacidade reduzida, em função das restrições de público impostas pela pandemia, os fiéis puderam acompanhar a cerimônia de cerca de 2h30. A gravação segue disponível pela internet (www.facebook.com/nsps.socorro)
Sobre esse momento histórico, entrevistamos o Padre Francisco. Confira:

Como foi a preparação para a Santa Missa do último domingo?
Primeiro peço licença à Edição e ao Leitor para me delongar um pouco nessa questão, mas penso que previamente é necessário entender o porquê da Missa Celebrada em honra de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, no último domingo, 27 de junho.

Há um costume muito antigo em nossa cidade de celebrar a Padroeira em agosto, na Solenidade da Assunção de Nossa Senhora, talvez para unir o aniversário da cidade (dia 09) à celebração mariana do dia 15, talvez para celebrar a antiga devoção que constava no Altar-Mor. Enfim, não se sabe com exatidão. Entretanto, o dia próprio de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro é dia 27 de junho. Vejam! Na Festa da Apresentação do Senhor (02 de fevereiro), chamada ainda de Festa das Luzes, são também celebrados diversos títulos de marianos, como Nossa Senhora da Apresentação, da Luz, das Candeias, da Candelária, de Copacabana, enfim, sempre algum título mariano que tenha a ver com a “luz de Cristo”, isso porque não há, no calendário litúrgico da Igreja um dia exclusivo para celebrar esses títulos devocionais. O mesmo se diz do dia 15 de Agosto, onde são celebrados outros títulos que não tem dia próprio, como Nossa Senhora da Glória, das Vitórias, da Abadia, da Boa Viagem, e tantos outros. À 8 de setembro, na Festa da Natividade de Nossa Senhora, ainda outros, como Nossa Senhora do Belém. Observem, então, que aquelas devoções que não possuem dia próprio para serem celebrados são associados a outras celebrações. Mas esse não é o caso de nossa Padroeira. O dia próprio de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro é 27 de junho. Nossa intenção não é mudar os costumes locais, mas apenas valorizar mais ainda a excelsa Padroeira. Em agosto celebraremos novamente a Festa da Cidade, como assim é chamada, ou ainda Festa de Agosto. E pediremos à Mãe do Perpétuo Socorro que, junto a Seu Filho, rogue por todos nós.

Quanto à preparação para celebrarmos Nossa Senhora do Perpétuo Socorro no dia 27 de junho, ela se deu durante sete dias de oração diante do Santíssimo Sacramento, das 15h do dia 20, até às 15h30 (mais ou menos) do dia 27. Foram 168 horas de adoração ininterruptas. E também a celebração diária da Santa Missa. À essa semana, com inspiração em At 1,12-14, onde Maria Santíssima está unida aos discípulos em oração, demos o nome de Cenáculo de Adoração, com o lema “Com Maria, adoramos ao Senhor”. Isso porque, diferente daquilo que alguns irmãos de outros segmentos cristãos dizem a nosso respeito (que adoramos a Maria) a Santa Doutrina Católica ensina que a Virgem Maria não é deusa e, por isso, nós católicos não a adoramos, mas, Ela conosco, e nós com Ela, adoramos à Santíssima Trindade: Pai e Filho e Espírito Santo. Daí o lema: Com Maria, adoramos ao Senhor, pois Ela conosco é também adoradora de Cristo, e não adorada.

O que significou a Santa Missa Dedicada à Igreja e Altar da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro na cidade de Socorro?
A Sagrada Tradição de dedicar os Templos para a Glória da Santíssima Trindade encontra sua fonte no antigo povo de Israel, em 1Rs 6,1-14, sobre a Construção do Templo por vontade do rei Salomão. Ainda no mesmo capítulo se diz, nos versículos de 15-30 sobre a ornamentação do Templo, como a construção das imagens dos dois querubins na sala chamada Santo dos Santos. Mais adiante, no mesmo Livro, apresenta-se a Transladação da Arca da Aliança (8,1-9), bem como a Festa da Dedicação (8,62-66). Outra passagem bíblica é Eclo 49,14, que fala da construção do templo destinado à glória do Senhor. Dedicar quer dizer, consagrar. Portanto, um templo dedicado é um templo consagrado ao Senhor. Cristo Ressuscitado é o novo e perfeito Templo da Nova Aliança, que reúne em Si um Povo Convocado para Deus. Em primeiro lugar a Igreja é Povo de Deus. E é esse povo que é chamado a consagrar toda sua vida a Deus, para adorá-Lo “em espírito e em verdade” (Jo 4,23). Segundo, esse mesmo povo se reúne em um Tempo dedicado às celebrações sacras, como símbolo da unidade de seus membros entre si e com Cristo. Ir à igreja é, e sempre será, um mistério de comunhão e participação, e não somente uma “vontade pessoal” que diz: hoje eu quero ir, ou hoje eu não estou com vontade. Se sou uma pessoa de fé, de verdadeira fé cristã, minha vontade será sempre fazer a vontade daquele que me redimiu.

Quanto à Padroeira, toda igreja possui um titular ou um padroeiro. E no nosso caso, a Virgem Maria, sob a invocação de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, sempre na perspectiva de que ela é como um farol a nos orientar para Cristo. Penso que à cidade, que tem a Mãe do Perpétuo Socorro como Padroeira, a dedicação do Templo significa muito mais; significa consagrar toda a cidade ao Senhor. Esse é um comprometimento de fé que assumimos.

Quais os principais momentos da cerimônia? O que significou a consagração do altar e das cruzes fixadas nas paredes? Já não eram consagradas?
Há dois Ritos para Dedicação de uma Igreja: um para uma Igreja totalmente nova, não inaugurada ainda, e outra uma igreja onde já se costumam celebrar os Santos Mistérios, que foi o nosso caso. Alguns momentos se destacam dentro do rito: 1. a bênção da água e aspersão do povo, simboliza a penitência e uma recordação do Santo Batismo que nos chama à santidade; 2. a deposição das relíquias dos santos sob o altar é facultativa, e em nosso caso não fizemos, mas esse rito quer expressar a união entre o sacrifício dos membros de Cristo (os mártires) a Ele, que é a cabeça do corpo eclesial. Também é permitido deposição dos santos que não foram martirizados, como Santo Antônio de Santana Galvão e Irmã Dulce, mas também não fizemos essa deposição; 3. a Prece de Dedicação, onde se expressa claramente o propósito de Consagrar o Templo ao Senhor; 4. a unção do altar, onde se expressa que Cristo é o Ungido por excelência, e onde se oferta o Santo Sacrifício da Missa; 5. a unção das paredes significa que todo o templo está consagrado ao culto cristão; 6. o incenso queimado sobre o altar representa, naquele momento, o sacrifício de Cristo, que nos eleva ao Pai. Tal como a fumaça do incenso sobe à Deus, como se expressa no Sl 141 (140), 2 e ainda em Ap 8,3-4, com ela as nossas vidas pelo mistério de Cristo; 7. o revestimento do altar, indicando que ele é preparado para o sacrifício eucarístico; 8. a iluminação do altar e da igreja, indicando que Cristo é a luz dos povos, e depois (9), a celebração da Eucaristia se segue como habitualmente.

Pelo levantamento que fizemos, a construção atual, de 1924, não havia ainda sido dedicada, pelo menos não havia sinais visíveis. E se tiver sido, sofreu reforma na qual perdeu profundo significado em seu afresco cultural e religioso, o qual estamos, aos poucos, tentando resgatar. Teve seus antigos altares modificados, tanto o Altar-Mor, quanto os altares laterais, logo após o Concílio Vaticano II, o que, se fosse dedicada, não poderia ter acontecido. E, ainda assim, com autorização ou sem, uma vez modificados perdem a dedicação (cf. Cân 1212). O Altar-Mor (como chamamos aquele em que se encontra o ícone do Perpétuo Socorro) foi modificado em sua estrutura, não só na substituição da Imagem, como também teve o baldaquino e a mesa sacrifical separados. Vale lembrar que antes do Concílio Vaticano II, o Altar-Mor e o Altar da Celebração (ou do Sacrifício) eram unidos e não havia o segundo Altar (o da Celebração), de tal modo que, se fosse dedicado, não poderia ter sido modificado indiscriminadamente, e uma vez feito, perdeu a consagração. Já o Altar da Celebração ou do Sacrifício Eucarístico (como chamamos o altar da frente), é da segunda metade do século passado (1970), inteiramente novo, com reaproveitamento de poucas peças. Além das intervenções sofridas, a ausência dos registros e dos sinais visíveis da dedicação, que são as cruzes nas paredes e a placa memorável, foram motivos que nos levaram a celebrar a Dedicação da Igreja e do Altar no último dia 27 de junho.

Em termos práticos, ninguém mais poderá mais mexer no altar e no ícone de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Isso?
No caso da igreja e do Altar da Celebração, sim! Ou pelo menos não se pode modificá-los sem autorização do bispo, em conformidade com o Direito Canônico (Cân 1212). Evidente que o Templo pode passar por pequenas reformas que não o descaracterize, pois sempre haverá a necessidade de manutenção, bem como pode ser recuperado o afresco artístico, que é nossa intenção. Quanto ao Ícone, ele até pode ser substituído, desde que seja por outro de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Pode ser substituído até por uma imagem dela, como a que há na entrada da secretaria paroquial e na Capela da Santa Casa, apesar do ícone ter maior valor simbólico, e está em maior conformidade com a iconográfica grega, de onde se origina a devoção a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro (da Ilha de Creta), em cuja honra se dedicou. Também o Altar-Mor pode ser modificado; pois, diferente da época antes do Concílio Vaticano II, que não havia dois alteres, mas um integrado, não é ele o que foi dedicado. Por isso, se no passado a igreja foi dedicada, o Altar-Mor, que teve sua estrutura completamente alterada, perdeu a dedicação. Isso são apenas exemplos, evidente, para dizer que o que não pode é substituir o Altar da Celebração e o ícone de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro por outro que não seja do mesmo título, uma vez que, em conformidade com o Direito, uma igreja dedicada não pode ter seu titular mudado (Cân 1218).

Algo mais a declarar?
Assim se reza na prece de dedicação: “Suplicantes, pois, vos rogamos, Senhor: dignai-vos inundar esta igreja e este altar com santidade celeste; que sejam sempre lugar santo e mesa perenemente preparada para o sacrifício de Cristo”. O que pretendemos com todas essas celebrações é aproveitar as oportunidades que temos para rezar mais, promover a unidade, a interação entre os membros tão diversos de nossa Paróquia. Penso que uma comunidade que reza mais, tem menos tempo para ações improdutivas, pois a oração comunitária nos une a Cristo e aos irmãos e, consequentemente, será uma Igreja inundada com as bênçãos celestiais. Rogo a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, excelsa padroeira, que nos ajude a sermos mais íntimos de Jesus, como Ela foi, para então seguirmos com fé o caminho do Evangelho, testemunhando-o, por palavras e ações. Deus, Pai de Misericórdia e Deus de toda consolação, abençoe também nossa cidade, livre-nos de todos os males; console os que sofrem com a pandemia, quer seja pela Covid-19, quer pelo luto, ou qualquer outro motivo. Nossa Senhora nos ajude a caminhar como povo consagrado, com a esperança de vivermos o Reino de Deus em plenitude. Agradecemos ainda a disposição d’O Município em propagar este ato celebrativo e com ele a devoção à Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. No próximo mês podemos falar sobre a Festa da Cidade. Deus abençoe a todos.