Quando nos sentamos à mesa para tomar o café nosso de cada dia não paramos para pensar nos percalços e desafios que os produtores têm de enfrentar. Um deles é a “bienalidade” do café, que tem como efeito produzir mais em um ano e menos no outro.
Uma das alternativas para fugir dessa bienalidade é o sistema de poda chamado Safra Zero, ou seja, podar o cafeeiro para que produza uma safra alta e zero no ano seguinte de modo a otimizar custos e mão de obra de colheita. Porém, apesar dos benefícios desse sistema já muito utilizado nota-se a dificuldade de adaptação no caso de pequenos cafeicultores.
Assim, visando produzir uma boa quantidade de café todos os anos, começou a ser praticada a chamada “Poda Programada de Ciclo”, técnica desenvolvida por pesquisadores do Incaper no Espírito Santo, desde 2016, e que tem sido utilizada por Claudemir de Faria, do Sítio Santa Rosa, no bairro Córrego Fundo, próximo ao Livramento.
Após ver na internet a experiência realizada no Espírito Santo, Claudemir entrou em contato com o pesquisador Abraão Carlos Verdin Filho e vem implementando a técnica inovadora aos poucos, de modo a poder observar a adaptação das plantas e fazer o registro criterioso da mudança da produção, não apenas no que se refere ao aumento da produtividade, mas especialmente na qualidade das plantas.
“Poda Programada de Ciclo”
“Há que se fazer como se diz na bíblia: Quando um ramo dá bons frutos, é preciso limpá-lo; para que continue a frutificar”, explica enquanto nos leva para conhecer o trabalho que desenvolve, mostrando que basta ir podando cada pé por baixo, o que faz com que as copas se desenvolvam com maior vigor e, ao mesmo tempo, surjam novos ramos onde foi feita a poda. Nesses ramos filhotes se desenvolverá a nova safra. “Essa prática, dos filhotes, é a renovação da planta que é feita a cada cinco ou seis colheitas e se faz tendo colheita”, conta.
“Para manter as safras basta cuidar dos filhotes, depois de um ano o filhote já está produzindo”, comenta o cafeicultor, enquanto nos mostra os ramos que brotam rente ao chão, como se fossem novos pés de café.
Em um espaço que chama de “laborário”, Claudemir plantou algumas novas mudas, nas quais aplicou a técnica e observa como as plantas se desenvolveram com mais vigor, produzindo grãos mais graúdos e de melhor qualidade. “Acabei de realizar a colheita e foi além do esperado. Ano passado fiz o cálculo por hectare, produziu 28 sacas, esse ano deu 49 sacas, ano que vem vai produzir de novo”, revela feliz com o resultado promissor.
No restante da propriedade, Claudemir vem fazendo o novo manejo aos poucos, sempre observando os resultados e realizando registros para enviar ao Incaper e contribuir, de algum modo, com as pesquisas, bem como trocar informações para aprimorar o trabalho.
Entre os benefícios já comprovados estão redução da mão de obra de 50%, aumento em 12% do índice de café cereja; pois esses grãos estão mais na copa da planta, sendo a uniformização e a maturação bem maior e também um aumento entre 26 a 30% dessa produção numa mesma área. Como resultado do experimento observa-se a densidade de haste, as plantas crescem mais, ficam maiores e se vai observando que vão tomando novo corpo.
“Eu estou em transição ainda, mas o que tenho de real e posso afirmar hoje é que estou conseguindo manter a safra alta. Antes eu colhia 30 sacos por hectare na safra alta, ou seja, a cada 2 anos. Agora, essa quantidade passou a ser colhida todo ano no mesmo talhão, mas ela vai aumentar depois que eu terminar a transição. É possível chegar aos 80 sacos de média de produção, depende do nível tecnológico do produtor”, continua a explicar. Por transição ele quer dizer passar do antigo manejo para a Poda Programada de Ciclo.
Para os cafeicultores, ele deixa o recado: “Sejam curiosos e experimentem a Poda de Ciclo para o café arábica em 30, 40, 50 plantas”!
Saiba mais – José Claudemir Faria, de 50 anos, há 36 cultiva café. Quem tiver interesse em saber mais sobre sua experiência com a ”Poda Programada de Ciclo” pode entrar em contato pelo: (19) 98153-4378 (WhatsApp).