Feriado: motivo de alegria para muitos. Distanciamento social: motivo de frustração para muitos porque não poderão celebrar com seus amigos e familiares. Chegou abril e com ele a Páscoa, importante data na história do mundo ocidental, tempo em que se rememora a paixão, morte e ressurreição do rabi judeu Yeshua, Jesus Cristo, cuja vida teve imensa importância na história de humanidade, fazendo com que vivamos no ano de 2021. Ano que começamos ainda dentro das turbulências e incertezas da Era Covid-19.
Há todo um lado cultural envolvendo esta data com festejos que movimentam o comércio e, por isso, muitas vezes, acabamos por esquecer do real significado da celebração para os que têm fé. A Páscoa, no contexto judaico-cristão, está sempre relacionada à libertação e cada um, de acordo com sua doutrina, entenderá de um modo muito específico o que vem a ser libertar-se. Confira a visão de diferentes denominações cristãs:
Evangélicos
“Para entender a Páscoa é preciso entender a criação de Deus, pois esse início per si explicará todo significado do que é Páscoa . Em Gênesis 1, Deus começou a criação no primeiro dia, Domingo, no sexto dia, Sexta feira, Deus criou o homem e no sétimo dia, Sábado descansou.”, comenta o pastor Geraldo Aparecido dos Santos, da Igreja Presbiteriana Independente em Socorro. Ele também rememora o significado da Páscoa para os judeus, relatado no livro do Êxodo de modo a contextualizar o que Cristo e seus apóstolos celebravam na última ceia e explicar que Jesus é o cordeiro pascal que liberta aos que Nele creem:
“O Novo Testamento estabelece uma relação entre o cordeiro protótipo da Páscoa e o consumado cordeiro da Páscoa, Jesus Cristo (1 Coríntios 5:7). O profeta João Batista reconheceu Jesus como “o Cordeiro de Deus” (João 1:29), e o apóstolo Pedro liga o cordeiro sem defeito (Êxodo 12:5) a Cristo, a quem ele chama de “um cordeiro sem defeito e sem mácula” (1 Pedro 1:19). Jesus está qualificado para ser chamado de “sem mácula” porque a Sua vida estava completamente livre do pecado (Hebreus 4:15). Em Apocalipse, o apóstolo João vê Jesus como “um Cordeiro que parecia que tinha sido morto” (Apocalipse 5:6). Jesus foi crucificado durante o tempo em que a Páscoa foi observada (Marcos 14:12).
Assim como a primeira Páscoa marcou a libertação dos hebreus da escravidão egípcia, a morte de Cristo marca a nossa libertação da escravidão do pecado (Romanos 8:2). Assim como a primeira Páscoa devia ser realizada em memória como uma festa anual, os cristãos devem relembrar a morte do Senhor através da comunhão do Senhor até que Ele volte (1 Coríntios 11:26).
A comemoração para os cristãos não é fixa e, portanto, acontece em data móvel e cada ano ocorre em uma data diferente entre 22 de março e 25 de abril. A data da Páscoa é celebrada no primeiro domingo após a primeira lua cheia que ocorre depois do equinócio de primavera/outono. Lembrando que o equinócio de primavera/outono (primavera no Hemisfério Norte e outono no Hemisfério Sul) acontece sempre entre 20 e 21 de março.
Por que Jesus morreu numa sexta-feira e ressuscitou em um domingo?
A páscoa marca um novo começo para o povo de Deus, um novo calendário, uma nova vida. Paulo declara em 1 Coríntios 15:22 – Porque, assim como todos morrem em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo.
Na teologia Paulina, Jesus é chamado de “segundo Adão” (Rm 5). É uma interessante analogia. Adão foi criado por Deus para resplandecer sua glória, Jesus é o próprio Deus glorioso feito em carne. Adão é a humanidade que fracassa, Cristo é o Homem-Deus que triunfa. Em Adão, todos morrem. Em Cristo, todos somos vivificados.
Quando Adão desobedeceu a Deus, foi decretada a morte dele, uma sexta-feira. Jesus foi crucificado e morto na sexta-feira, antes do sábado. Referindo-se ao descanso da obra Divina, ressuscitando no Primeiro dia da semana, domingo.
Para Paulo, Cristo é tão homem quanto Adão. Deveria ser assim para que a maldição do pecado fosse vencida. Adão morre porque peca, Cristo morre porque se manteve fiel. A morte entrou na humanidade por um homem, Adão (vv.21). Nele, todos nós morremos, pois descendemos Dele e carregamos conosco o seu fracasso. Na provisão salvífica, Deus oferece à humanidade um outro homem para ser seu representante. Enquanto o primeiro Adão nos presenteia com a morte, e todos morrem nele, o segundo, Cristo, traz consigo a ressurreição, e nEle todos os fiéis serão vivificados (vv.22). “Vivificados” nesse verso aponta não apenas para a futura ressurreição, mas também para a vida abundante que temos em Cristo Jesus, Nosso Senhor Ressurreto.
Católicos
Já para os católicos, a experiência da Páscoa começa 40 dias antes do Festivo domingo, em um período chamado quaresma, no qual se realiza a leitura da trajetória final de Cristo em sua histórica passagem pela terra. Padre Pe. Nei de Oliveira Preto, da Aparecidinha, Vigário Geral da Diocese de Bragança Paulista, reflete sobre essa importante celebração em tempos de pandemia. Acompanhe:
“Não vos assusteis! Vós procurais Jesus de Nazaré, que foi crucificado? Ele ressuscitou não está aqui” (Mc 16, 6).
Este versículo bíblico está no Evangelho da Missa da Vigília Pascal, ele afirma que Cristo ressuscitou. A ressurreição de Cristo, isto é, a Páscoa de Cristo, a passagem da morte para vida é o que dá todo o sentido da religião cristã católica, como diz são Paulo aos Coríntios “se Cristo não ressuscitou, ilusória seria nossa fé” (1 Cor 15,7). Pois, pela ressurreição de Cristo que todos os cristãos alcançarão a imortalidade. Cristo, nossa Páscoa!
Na fé cristã católica a Páscoa é o ponto mais alto das celebrações anuais, é da Páscoa que decorrem todas as celebrações e todo o calendário da Igreja. A cada ano os cristãos católicos, celebrando a Páscoa, renovam suas vidas, renovam sua graça e seu compromisso batismal, num sentido de renascimento, de um novo início, de uma vida nova em Cristo.
A celebração da Páscoa ocorre dentro da Semana Santa na vida da Igreja. É no “Tríduo Pascal”, que celebramos a Páscoa, celebramos a Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. O Tríduo Pascal tem seu início na missa vespertina da Ceia do Senhor (lava-pés), na quinta-feira santa, passa pela celebração da paixão e morte do Senhor, na sexta-feira santa, chega no seu ponto mais alto, na missa da Solene Vigília Pascal, no sábado à noite e termina no domingo de Páscoa.
Neste contexto de pandemia que estamos vivendo, nesta “fase emergencial”, estão proibidos os cultos públicos, por isso, a Igreja realiza as celebrações da Páscoa fazendo transmissões on-line via internet. É uma realidade desafiadora, “triste”, pois, o povo está privado da Comunhão Eucarística. Mas, não de Deus, que está no meio de nós.
Com a mesma confiança em Deus e com a mesma esperança de que tudo isso vai passar, como Igreja, entendemos e convidamos todas as famílias católicas para celebrar a Páscoa em casa, rezando unidos e acompanhando as celebrações da sua comunidade com a mesma fé que vem de Deus, e cuidando uns dos outros, como Deus Pai, cuida de todos seus filhos e filhas.
A Celebração da Páscoa este ano será marcada na história, como uma celebração em que a Igreja reza pelas vítimas da COVID-19, reza e se solidariza pelas famílias afetadas por essa crise sanitária, reza pelos que estão isolados em casa, em muitas situações de solidão, reza por tantos trabalhadores nas áreas de saúde, educação, comércio, que precisam continuar trabalhando pelo bem da sociedade.
A Páscoa desse ano será uma celebração de súplica e confiança, de jamais perder a esperança em Cristo Ressuscitado. N’Ele é possível dizer: “Feliz Páscoa”